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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A NOVA CASA DE OPERA


A nova casa de ópera
Estacios Valoi

Christoph Schlingensief é considerado na Europa um dos mais radicais e reconhecido artista na arena teatral no cinema e artes plásticas assim como na ópera.
Nascido em 1960 em Oberhausen na Alemanha formulou pela primeira vez a Trilogia para a crítica de filmes em 1983 e 1984 obra que teve como subtítulo ‘filme com neurose’ o que constitui ate aos dias de hoje uma das suas bases para a sua criação cinematográfica a esteira da sua primeira longa-metragem intitulada ‘As caixas Chegaram (Tunguska – Die Kisten Sind Da)
A sua primeira aparição como director teatral na mesma época com a peca, 100 Anos de Partido Democrata Cristão (Jahre CDU), Jogo sem Fronteiras (Spiel Ohne Grenzen) em Volksbuhne na praça Rosa Luxemburgo em Berlim sob a égide de Frank Castof nunca mais parou.
Vários são os projectos que vão marcando o seu percurso nestas coisas de fazer arte, desembocando em apresentações nos vários países da Europa, Estados Unidos, África e Ásia, e Brasil onde montou (desmontou) uma versão da peca de Richard Wagner intitulada ‘Comboio Fantasma ‘ no teatro Amazonas Manaus no Brasil.
Na obra Christoph Schlingensief baseou se na opera tradicional e na visão particular e critica do autor da corrente wagneriana que salientava a da opera como ‘ obra de arte total’ e que mais do que uma critica ou encenação da opera, o mesmo transcende a um nível não apenas para ser assistida mas também para ser vivida.
A exemplo do seu périplo destacam se projecções, palcos giratórios, teatros clássicos, bares de esquina, Samba, Cocktail Vias, Canto Lírico, Karaoke, Musica electrónica, camarotes, e camarins, divas, simples figurantes e pessoas comuns que vão compondo as sua viagens frenéticas intermináveis espelhadas num conjunto de elementos que vem carregados nas suas composições artísticas, ambas com o mesmo diapasão a mistura da cultura do consumismo selvagem nos dia de hoje onde todos são protagonistas e fantasmas.
NA sua primeira visita a Moçambique em parceria com a Embaixada da Alemanha e ao Instituto Cultural Moçambique Alemanha (ICMA) mostrou se satisfeito com o seu périplo feito pela província de Maputo. O actor vem sendo abalado por um cancro a algum tempo, para não dizer que talvez tenha os dias contados.
Uma das pecas por ti produzidas foi o comboio fantasma. Continuas a passear abordo do mesmo comboio?
Foi uma peca de opera produzida no Brasil em Manaus e apresentada em São Paulo em uma instalação com cerca de 200 pessoas onde a mistura dos actores, as pessoas conduziam a uma velocidade estonteante na opera. Foi um sonho que trazia dentro de mim, criar uma ópera a alta velocidade, geralmente a ópera que é feita é lenta na sua essência. Foi fantástico.
Considerado um dos actores mais radicais na Alemanha, Europa. Porque?
Não faço a mínima ideia. Fiz alguns projectos teatrais na Alemanha, Europa em que alguns olhos consideraram uma provocação, talvez um assalto ao seu modo de vida, de ser ou estar. Num dos projectos tinha um partido com o nome ‘vote em si mesmo ideia é votar em ti mesmo. Geralmente as pessoas votam em alguém para que os represente na esfera política, o sistema. Fui a televisão para contrariar o sistema e apelei as pessoas para que votassem nelas próprias, e, cerca de 2.500 pessoas o fizeram, votaram em mesmas e os partidos reclamaram alegando não terem obtido o número ideias de eleitores a votarem neles, foi fantástico, adorei. É um novo sistema político em que as pessoas votam nelas próprias e não num partido político (Risos)
A sua vinda a Moçambique não é meramente ‘turística’ enquadra também outras vertentes. Que vertentes são essas e o que andas a cozinhar ou a produzir?
Estamos a quatro meses a realizar um périplo pelo continente africano, mas antes dizer que fiz uma ópera em ‘ Bayreuth’’ no espaço onde Richard Waner concebeu o sonho de ter a sua propria casa de ópera e mostrar o lado intrínseco da sua ópera elitista que era adorada e frequentada por fascistas e mais adorada por Adolfo Hitler que se faziam ao local para ouvirem a música, nunca gostei de Adolfo Hitler e detesto essas pessoas, Por isso fui a ‘Bayreuth’’ para contrariar o sistema e fazer de forma diferente. Penso em construir uma casa de opera em África sem que tenha um Alemão ou um Wagner a dizer o que a opera significa, o seu sentido, mas edificar uma escola com aulas áudio visuais, dança, um espaço em que as pessoas possam aprender e se expressar de diferentes formas, uma casa de opera em que podemos aprender da África dos africanos sem interferência Europeia a dizer ‘ calma que te ensino o que é a opera ou mostrar como fazer’.
Uma opera em que tenha a minha ‘Bayreuth’ mais a fundo, radical onde se englobam novos elementos que nós nao temos na Europa. Espero que entendam.
Qual o outro lado da sua agenda?
Tivemos um encontro com o ministro da Educação e Cultura de Moçambique Aires Ali, fazedores de teatro e outras nos vários locais onde estivemos na cidade de Maputo e arredores da cidade de Maputo. Talvez nos instalemos aqui, o ministro mostrou se interessado. Contudo não conheço o sistema político nacional assim como o que o ministro esta a fazer em prol do prol da educação e cultura no país. Moçambique é um país como outros em África a semelhança do Ouagadougou onde também nos encontramos com o ministro da cultura daquele país e tivemos que cantar com ele durante duas horas, é outra forma de conversar.
No teu percurso achas que a ópera é um estágio supremo cultural como alguns propalam por ai?
Este é um ponto de vista de algumas na Europa as ‘elites, de uma forma geral penso que a opera tem a sua essência nas pessoas no povo, temos que aprender sobre a proveniência da formula da opera. No estilo clássico é fantástico, porque apenas tens musica, as vozes, todo o corpo canta, uma emoção extrema da audiência, concentração por vezes muito forte na expressão cultural em relação a outros projectos culturais em outros países. Este tipo de ópera creio que não trem futuro, é moda antiga, é só ficar de pé, cantar e produzir ‘cds’ para as grandes companhias.
A ópera vem das pessoas e não das elites, cantar dançar com emoção e a minha nova ópera começa com a criação de escolas, onde se aprenda a dança, a ler notas musicais, ler e escrever. É importante que a pessoa possa escrever o seu próprio roteiro expressar o seu sentimento; a segunda parte do projecto contempla a aprendizagem do uso da câmara fotográfica, vídeo e perceber a imagem que muita das vezes é deturpada para o benefício de alguns e estas aulas vão criar um espaço em que cada indivíduo possa fazer a sua própria imagem e interpretação. E perceber que a imagem pode manipular as nossas vidas e que nem tudo que aparece é real como parece.
Preços elevados para assistir uma ópera como é que vão peneirar esta situação?
De facto; e inconcebível que o preço de um bilhete para a ópera custe 100 a 200 euros e ate aqui vem acontecendo pela Europa onde uns consideram na para o ‘sangue azul’ as elites, mas enfatizando o meu pronunciamento anterior, estou a cria um novo tipo de ópera a semelhança de Manaus onde tive 1500 pessoas vinda das favelas num acto explosivo. Havia vida naquele espaço e esta é que é a ideia da nova ópera.
Porque te chamam louco?
Talvez tu também sejas louco, não sei! Não é uma ideia louca. Acho que muitas pessoas ficam acomodadas em poltronas nas suas casas a engordarem cada vez mais e sempre que alguém acelera a sua marcha elas dizem ‘ este homem é louco.
Talvez instale o projecto no Cine Scala aqui na cidade de Maputo em Moçambique, todavia continuo a procura do espaço ideal.
O último local em que Christoph Schlingensief visitou em Maputo foi o Cemitério de Lhanguene.

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