terça-feira, 1 de dezembro de 2009
O SOCIOLOGO DA IMAGEM
Anamavenchiwa
Ismael Miquidade ‘O sociólogo da imagem’ e os regenerados
Estacios Valoi Foto:Ismael Miquidade
2/12/10
Realiza se a segunda exposição do fotografo moçambicano Ismael Miquidade, de 3 a 9 de Dezembro, na Associação Moçambicana de fotografia, em Maputo. A exposicao leva o titulo Anamavenchiwa, nome do grupo Cultural da Penitenciaria Industrial de Nampula, na língua makwa significa Os Regenerados. Jovem de muitas andanças, fotografo apaixonado e viciado pela fotografia, deixou as terras da poeira vermelha do Xai-Xai aos seis meses de vida, de mãe do chibuto e o Pai de Inhambane, na boleia dos seus progenitores que hora trabalhavam aqui e hora acolá acabou desembocando em Pemba, Quelimane e por fim Maputo, mas uma infância marcada de boas memorias que só o tempo dirá.
Como muitas infâncias, bons tempos da pequenada não porque o mesmo seja um velhote porque apenas cilindra os 25 anos de idade mas com uma memória arquivada com muito zelo e carrinho porque realmente sente que apesar de ter a veia sulista, nascido, sente que é um indivíduo que pertence a região nortenha do Pais.
Que memorias essas que guardadas a sete chaves?
Memorias das brincadeiras, amizades que fiz porque sai de Quelimane em 95 aos 11 anos e só voltei a por os pés em 2006 quando já estava a trabalhar para a imprensa a andar de um lado para o outro aqui com a câmara tira colo a retratar a sociedade nas suas várias vertentes quando duas ou três pessoas olharam para mim e disseram tu és o Mailito o nome de casa. Lá dizia o outro eu sou o Boné dali em frente a tua antiga casa que a todo vento conduzia me para uma refeição as suas casas e diziam aos pais, este é aquele ‘meninote vivia ali. Lá sinto me em casa.
De brincadeiras de infância, quando é que se da o rito de iniciação fotográfica?
Desde tenra idade, quiçá por influência do cinema que em alguns casos mostra o que é fotojornalismo e claramente para um jovem é sempre cativante saber que pode fazer fotografia, percorrer vários lugares, aprender línguas, os vários contextos pelo mundo fora.
Mas foi em 2003 que saltei para a fotografia, na altura concorria para a Universidade e como um apaixonado pela fotografia pensei que fosse preciso ingressar na Escola de Jornalismo para cursar fotografia ou vídeo, estava sedento de informação porque não sabia que tínhamos uma escola de fotografia após ter visto um anúncio no Jornal Noticias ‘ curso de fotografia no Centro de Formação Fotográfica, espaço onde convergem pessoas provenientes de vários lugares para o ritual da introdução a fotografia.
Como é que te saíste do rito e começas a escrever com a câmara fotográfica?
Deixei a escola de jornalismo a milhas e disse para mim, vamos fotografar, tive como professor Basílio Muchate de quem gosto muito, sempre com a sua lente de 50mm mas antes usava uma Nikon FM2, tranquilo e questionava-o, professor já realizou alguma exposição individual e ele dizia me tenho uma e outra foto em colectivas mas um dia teria a minha exposta. É um fotógrafo que a mim me inspira pela sua humildade, é um indivíduo que tem uma fotografia belíssima. O Basílio ensinou me como segurar uma câmara que é a base, a focar, a fita de segurança, medir a luz ate a impressão e para mim foi fantástico.
Fazer fotografia é apenas pegar na câmara e um 'click'' esta feita?
Muitos pensam ‘pegou na máquina carregou no botão e foto feita, não. Faço uma viagem ao encontro de frase do Ricardo Rangel em que dizia ‘uma coisa é tirar fotografia e a outra é fazer fotografia ‘tirar fotografia qualquer um faz agora fazer fotografia implica a composição, veres algo e dizeres isto pode ser fotografia. É que o nada pode traduzir se numa bela fotografia carregada de composição, com algo que queiras mostrar e esse período de três meses foi fantástico.
Durante ano e meio como Repórter Editor e Fotográfico do Jornal Meia-noite, como de praxe a varrer os vários acontecimentos um pouco por todo o lado, noites a fio para que ‘ o jornal saísse com fotografias diversas’ e claro também escrevias retratando o diário nas duas vertentes o que te fez criar bom banco de imagens para além de outros com União Europeia, actualmente Editor fotográfico do Jornal Canal de Moçambique Esta exposição que será aberta amanha e por sinal primeira. Qual é a base desta iniciativa?
A exposição vem a esteira da colaboração que tenho com uma ONG Italiana que é o progettomondo.mlal, que apoia de entre varias áreas a educação, cultural, para os jovens e outras áreas e a exposição resulta da minha inserção num programa realizado em coordenação com o Ministério da Justiça relativamente as boas práticas prisionais e a reintegração social do prisioneiro.
De 2008 quando fui convidado a produzir um documentário fotográfico intitulado arte e oficio espelhando o dia-a-dia do prisioneiro referente as sua s actividades diversas, como poesia, teatro, dança, pintura e agora sobre fotografia com o objectivo de ensina-los e possivelmente talhando a arte possam ter um outro enquadramento social explorando o trazem no seu interior que é realmente é útil e que possa ser bonito.
O caso da poesia que é bem escrita, forte, sentida, em que versa sobre o amor, o sofrimento e em alguns casos as penas injustas que lhes são atribuídas algo que geralmente acontece onde salientam se delitos menores mas que por negligencia acabam com uma pena maior.
Neste âmbito fiz uma exposição na penitenciaria intitulada arte e oficio composta de 40 fotografias a preto e branco e na ocasião um dos detido que solicitou ao projecto aulas de fotografia, iniciativa a qual este aderiu e nos finais do mês de Maio ou Junho fui incumbido de dar uma formação fotográfica, partilhar a experiencia adquirida ao longo destes anos e mostrar que a fotografia também pode ser um meio de reintegração social, auto emprego, rentabilizando de forma livre, evoluir, criar uma personalidade e postura socialmente aceitável trabalhando, sem ter que incomodar a ninguém para os cigarros e bebidas.
Terceira vez que pões os pés em Nampula e voltas com esta primeira exposição publica para alem do professor Carlos será que prefere chamar te sociólogo fotográfico que desafio?
O professor Carlos Serra que de emails comunicamos visitou a minha galeria digital e publicou algumas fotos minhas e no seu primeiro artigo escreveu Ismael Miquidade um verdadeiro sociólogo da imagem. Não sei se estou neste patamar mas sou realmente alguém que gosta de fotografar anónimos, estes anos todos que podem parecer muitos isto de 2003 ate hoje andei a cobrir eventos, conferencias de imprensa e não tive muita oportunidade de sair desta ilha mas uma e outra vez sozinho soltava me distrito adentro, claro que auto financiava as minhas viagens e se hoje continuo a ganhar algum dinheiro invisto no equipamento, uma passagem, chapa, ir ao distrito fotografar sem que alguém esteja a dizer agora queremos isto ou aquilo.
Gosto muito do jornalismo mas acho que prefiro trabalhar livremente porque realmente sem ofender a ninguém penso que nos jornais o fotógrafo é pago para não pensar, é uma máquina que tem que produzir para tapar buracos. Exemplo muita vezes em uma pagina de um tablóide a 3 tens duas pecas sobre Cabo Delgado e destas vezes todas nenhum jornal enviou me para Cabo Delgado e assim do nada na hora do “dead line” fecho tenho que meter três fotografias. Isso frustra me porque nota se facilmente que há falta planificação, um pouco de falta de respeito para com os profissionais da fotografia.
Sou fotografo não estou ali para tapar buracos mas sim para junto trabalhar com os meus colegas e dizerem vamos fazer este ou aquele trabalho, uma indicação previa do jornal, vamos trabalhar nisto e vamos apoiar para que possas visitar algum para que possamos ter um banco de imagens o que não existe.
Pode ate haver um e outro caso, mas vou dar o exemplo do Jornal Noticias que seguramente tem uns 6 fotógrafos todos em Maputo, possivelmente um na Beira mas parece que eles se esquecem completamente das outra províncias e no Jornal vemos sempre imagens de arquivo repetidas, todas num jornal durante um mês acho que alguém não esta a trabalhar mas a dormir.
Mas qual será a composição da exposição?
Vamos apresentar Ismael Miquidade e o grupo, uma exposição intitulada Anamavenchiwa.. Também levei algum tempo a aprender isto o que significa os regenerados na língua macua. São 70 fotografias, 40 minhas e as restantes 30 dos meus colegas fotógrafos da penitenciária.
Qual é o estagio do fotojornalismo em Moçambique?
Penso que um bom fotógrafo é aquele que se supera todos os dias e que se poder fazer uma fotografia que o satisfaça por dia é bom, mas quando tens fotógrafos que estão ali a espera do salário então deixam de ser fotógrafos, artistas ou pessoas criativas e passam a ser funcionários e é o que temos aqui, minha singela opinião.
Qual foi a tua experiencia na Penitenciaria Industrial de Nampula?
A principio entras num espaço desconhecido e vês pessoas, vestidas de preto, uns com umas caras tanto quanto assustadoras e questionas te sobre o lugar em que vais trabalhar. Nos s primeiros 2, 3 dias andava de olho bem aberto, se chegassem alguém perto de mim ficava com algum receio mas depois passas a fazer parte daquele sitio onde existe um grupo cultural naquele pavilhão só para fazer arte onde existe uma um conjunto de actividades e ficas admirado, são prisioneiros a fazer isto e é bonito!
No acto do convite disseram me o seguinte: convidamo-lo para fazer fotografia sobre o grupo cultural, e apenas fui fotografar o grupo cultural, não entrei para o lado das celas. O contexto do trabalho foi ocupar o prisioneiro com cultura, formação, técnica, é uma cadeia sim mas por outro lado temos um grupo de aproximadamente 60 prisioneiros, são artistas, poetas, músicos, pintores, escultores, fotógrafos, etc.
O prisioneiro cumpre a pena e não tem ‘espaço’ para a sua reintegração na sociedade. Que te salta na mente?
E exactamente isto, que tento ilustra, uma parte do meu trabalho cinge se nesta questão para além dar um pouco do que sei, também deu azo para que dissesse aos prisioneiros: meus carros aqui é preciso trabalhar a serio, possivelmente terão algum apoio externo para a compra de uma câmara, um incentivo para a pessoa comprar uns filmes e continuar a fotografar, que a fotografia não é um curso que fazes e guardas o certificado em casa pendurado e dizes eu sou um fotografo, fotografia é todos os dias, pensar no teu contexto social, das fotos, um pouco de tudo, sempre a trabalhar. Não é o certificado que diz que tu és fotógrafo mas a vocação, esta forca, olho para ali e vejo uma imagem, a capacidade de poder compor e ficar feliz com o que fizeste, e, o mais importante a autocrítica, isto é, vês um trabalho e dizes esta foto é minha mas não esta boa, falhei, faço de novo ou a próxima farei melhor.
Que balanço fazes desta viagem por Nampula?
Vamos sempre vários porque somos acolhidos na casa do projecto, um por três semanas ou por mais tempo de forma diversificado, hoje é um poeta amanha um músico, actor, escritor e desta vez fui com o Nelson Mendes, um músico independente que toca e encanta.
Nampula neste ano de trabalho das 3 vezes lá estive foi de segunda a sexta a trabalhar no projecto e fim-de-semana apanhar o chapa e ir a Angoche, Namialo, Ilha de Moçambique e outros lugares, foi positivo para não falar da viagem de comboio de Nampula a Malema e para um fotografo aquilo é um a porrada de fotografia, tem um pouco de tudo, uns vão a estacão para vender os seus produtos e outros só para ver o comboio passar e dizer ‘Salama salama” esta experiencia foi boa.
Que gostarias de ver no jornalismo fotográfico moçambicano?
Só com a escola é que se vai alem, é preciso estudar, evoluir, a autocrítica, crescer mas isso só com escola e a pratica, fotografar com a câmara e não com a boca. Quero agradecer a oportunidade ao projecto na pessoa do Sr. Stefano Fontana, Delegado do Progettomondo em Moçambique, que levando me para Nampula a fazer este trabalho com a penitenciaria foi uma experiencia única, fantástico uma oportunidade de fazer parte de um grupo que só conhecia através dos media assim de longe em paralelo por ter conhecido outras paragens deste vasto pais.
Vem ai o teu primeiro livro não?
Quanto ao livro ainda estamos a pensar e a procura de patrocinadores mas certamente vou continuar a trabalhar e tenho um bom banco de imagens sobre Moçambique, distritos, pessoas e seguramente vou continuar a ser útil ao jornal. O livro já tem bases temos ainda que definir como e onde será impresso.
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