Páginas

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A VAIDADE DO BONGA EM FRENTE AO ESPELHO


Dois dias de concerto Bonga
Estacios Valoi Foto:Ismael Miquidade
30/09/09
Exclusivo
A chegada do Bonga ao aeroporto internacional de Maputo foi marcada por umas chamussas como se a organização já soubesse que estas fazem parte do cardápio do músico africano proeminente.
Não fossem as chamussas, não teria conversado com o músico por alguns minutos, poucos mas muitos para um Bonga que aparentemente não estava ali para muitas palavras optando pelo próximo encontro.
Estavam boas que não fiquei a margem, afinal tinha que acompanhar a pedalada do musico enquanto mais uma ou duas palavras iam saindo de ambos os sentidos.
Bonga que de vez em quando o prazer de saborear as chamussas moçambicanas. Estão bem feitas, não?
Bonga - Claro que estão boas! Normalmente gosto de chamussas mas não perguntes só a mim também aos outros que aqui se encontram, se não sou suspeito.
Desde da ultima vez que estiveste aqui em Moçambique o que achas que mudou?
Bonga - Eu ainda não cheguei, agora estou chegando, mais tarde depois de ver as coisas ‘In loco’ digo te o que mudou.
Ainda não chegaste. Melhor estas chegando. Como é que vais chegar a Moçambique?
Bonga - Vou chegar com a cumplicidade do Julinho Sitoi ‘ Big brother entretenimento’, ele é que me trouxe aqui e vai ter que mostrar como é que é, e como é que não é. De qualquer das formas quando a gente vem a Moçambique sempre tem a vontade de estar aqui reviver e viver coisas de um passado recente e desta vez na companhia do meu compadre Costa Neto e com a participação especial do Juvenal Cabral. Depois a gente fala o resto.
Actuar com Hortêncio Langa, João Cabaço e Arão Litsuri. Que sabes destas três figuras do panorama cultural moçambicano?
Bonga - Primeiro é que são todos cantores daqui e que ficamos unidos por serem a representação viva sócio cultural e musical e isso é muito importante, são conservadores que finalmente alimentam e dão grande cunho a grande personalidade da musica desta terra, que através dos grandes canais da Europa acompanhamos o seu percurso quando nos é facultado onde são os próprios moçambicanos a assumir a propagação da sua musica e coreografia das meninas que estão a dançar a serio. E muito bom estar em palco com este ‘leque’ de músicos. Faço dos meus espectáculos uma festa.
Coisas de um passado recente o que seriam para si?
Bonga - Há, no fala mais, no fica bem!
Então, ainda estas ‘numa viagem nostálgica’ pelo sabor das chamussas de Moçambique não?
Bonga - Ho, Não só as chamussas! A matapa, o arroz de coco, aquele camarão gigante. Hum. Depois se vera
Fico a tua espera para a próxima conversa mas antes, uma questão simples. Você é uma daquelas figuras proeminente na arena cultural musical em África, principalmente nos galopes, e sempre com algo na ponta da língua não apenas na vertente musical mas também com um olhar para o estágio do continente.
Mas antes da próxima que te vem em mente sobre o estágio cultural, politico nos no continente ou PALOP? Que e mudou?
Bonga - Vou me manifestar consoante o desenrolar da situação durante a minha estadia, aquilo que for constatando e como na poderia deixar de ser, a minha vivencia, aperceber me das coisas daqui e de outros quadrantes, o que é feito além fronteiras e porque é que eu continuo sendo artista e o que isto me proporciona. Mas da me gozo, prazer de continuar a se – lo.
A primeira vez que cantei na Franca foi com Charlas Navura no Samplier, foi ai que começaram a descriminar me dizendo ‘agora senhoras e senhores temos aqui um africano animador que vai fazer uma animaçãozinha enquanto o nosso artista Charlas Navura se prepara para subir ao palco!
Eu como falo francês corrente tive que lhes dizer que mandava a medra pessoas com aquele tipo de atitude e comportamento baixo e que me considerava um artista igual ao charlas Navura e ao Ray Charles, Bob Dilan e igual a qualquer um.
A França, Paris danos uma grande oportunidade maior para desenvolvermos a nossa musica africana e titulo de exemplo temos pessoas como a falecida Miriam Makeba, Salife keita, Mano Dubango, Cesária Évora ….
Nessa noite cantei com esta voz rouca que minha mãe me deu, que vocês conhecem que eu mesmo desconhecia a sua existência e a partir dai o artista começou a despontar. Quando Charlas Navura entra no palco disse ‘ eu gostaria de pedir a este público francês para mais uma vez se levantar e aplaudir a este magnifico artista que acabamos de ver.
Que prazer ou gozo esta continuidade artística te da?
Bonga - Não imaginas! Da me tremendo gozo. O mais triste é ser artista na terra dos outros e não nos nossos países de origem, na nossa terra quando se deveria desenvolver mais a tradição a arte que é nossa, de forma a impor esta ‘bagagem enorme’ nos nossos países de origem e alem fronteiras.
Afirmação da minha personalidade, sou um indivíduo que usa da frontalidade e antes usei isto em casa quando me quiseram impor a religião, a cultura do colono atitudes que não tem nada a ver comigo ou com o meu avo, bisavó, a tradição da minha terra e quando me impuseram um comportamento estrangeiro e depois disseram nos que não éramos artistas mas animadores de programas, produto exótico.

Que elementos seriam necessários para que este propósito seja alcançado nos nossos Países de origem como um dado adquirido?
Bonga - Apenas determinação, firmeza e atitude, isto é que nos define, e, falta um pouco disto. Claro que compreendemos a existência de outras prioridades numa sociedade, mas nós como músicos temos que zelar por aquilo que nos diz respeito directamente, que é arte que a nós sabemos fazer a qual representa todo o historial de um povo. Mas aí há muito pano para manga.
Hoje tenho consciência de ter participado num grande movimento de afirmação e hoje já sou o artista de facto o compositor e interprete e muitas das vezes temos algum problema a falar assim na nossa terra de origem pelo estado em que a cultura é um parente pobre da politica ‘doente ‘. Os artistas não são valorizados como deveriam ser. Eu continuo um combate directo a tudo que considero nocivo é um homem de intervenção.
Sendo a cultura um veiculo que ilustra uma sociedade e pouco se faz em prol desta. Como ‘fintar’ essas barreiras todas?
Bonga - Não seria o artista que sou hoje se não primasse por estes aspectos anteriormente mencionados. Torna se necessário levar as coisas que os outros fizeram num passado recente mas que não conseguiram ter sucesso por não terem insistido, chegaram no meio do caminho afogaram as mãos. Um cortou para a direita, o outro para a esquerda e o outro afundou. Regra geral, sempre se afunda pela ausência de colaboração daqueles que não gostam de nós.
O mais importante é termos uma personalidade nossa da terra, refiro me a identidade própria, isso é bom é lindo, afinal isso é que nos define. Mas também os aparelhos que entram em nossas casas como a televisão, jornais revistas que nos ‘bombardeiam ‘, abusam e falam dos lucros das missis em passareis, da música dos outros, etc.
Então e a nossa musica onde é que a situamos! Insisto em continuar nessa via m musical porque é a que me artista onde hoje sou considerado e respeitado por esse mundo todo particularmente na minha terra de origem e quando estou em Moçambique a solidariedade toda de vocês que são meus irmãos. Contudo venho para aqui de vez em quaaando, etc.
A te que ponto vai a tua vaidade?
Bonga - A vaidade é quando estou diante do espelho ter que pentear, bem o cabelo, ter que aparar bem a barba, calca vincada, camisa bem engomada.
Nós temos que nos impor. Os políticos também têm esse problema de se impor complexo de inferioridade. Pensam que lhes vão chamar de vaidosos ou arrogantes ‘andam a engolir muitos sapos’ é preciso ‘acordar e dizer ‘isto é meu, é minha cultura.
Continuo a ser um homem de intervenção e dizer aos mais novos para continuarem a fazer a sua música sem vergonha ou medo não sermos inferiores aos homens do R&b, Rocks, da música brasileira com a qual somos todos os dias bombardeados a partir da Tv. Ate os africanos compram os discos em detrimento dos nossos.
Lembro me do grande concerto da minha vida em Portugal na Foz do Barreto onde estiveram cerca de 15 mil espectadores, cujo governo Português filmou tudo para dizer ‘ vejam o futuro multicolor da lusofonia ‘, os políticos são uns grandes oportunistas! (risos)
Que esperar dos dois concertos em Maputo?
Bonga - O feitiço que o feitiço que como dizes na tua ciência quando estas a cantar e dançar com a musica quente de Angola e se vais fazer essa multidão sentir todo o calor?
Em Moçambique também há feitiço, há uma grande cumplicidade entre nos é um problema muito grande. Nós os africanos nos relacionamos com europeus, principalmente com os descendentes que nos colonizaram, nos ficamos com receio de afirmar aquilo que são os nossos desejos e o que pretendemos.
Vai ser uma coisa fantástica porque já fomos marcados por espectáculos que fazia a Aurélio dos Libombo, foram bonitos ate que teve a presença da Graça Machel no palco trazendo as flores que Samora Machel tinha me enviado, actuei com a Alcione que esteve em Moçambique e incendiou o Maxaquene.
Já agora perguntar aos moçambicanos porque não dar continuidade a este processo de interacção, pode não ser só comigo há tanta gente a cantar mas que infelizmente só fazem ‘Kuduro’, os moçambicanos também tem que ir a Angola. Os Angolanos tem capacidade de se abrir e isso vai ser importante para o nosso relacionamento e penso que os aviões deviam ir mais vezes para Angola. Porque e que tenho que passar antes por Joanesburgo para vir a Maputo! Os moçambicanos também devem ir para Angola levar a Marrabenta, a verdadeira tradição.
No fim dos dois concertos foi aquilo que o Bonga e os outros músicos anteriormente prometeram. O espaço do coconut assim como do 'big brother' estiveram abarrotados de fans, curiosos e outros que pela primeira vez viram Bonga tocar. As dançarinas que pouco deixaram seus créditos em mãos alheias souberam estar levando as pessoas ao delírio com a sua coreografia bem montada e executada.
Foram grandes concertos, maravilhosos pela selecção magnífica dos músicos. Estávamos em palco para um grande dialogo que não poderia ser individual onde também pautou pela espontaneidade sem ‘limites’ ao não ser no fim dos concertos quando o publico pedia mais uma ate ao ponto em que já não se podia dar.
No fim do concerto o Bonga perguntava. Vocês têm aqui um homem do saco?
A estrutura hierárquica do patacóncio esta feita de muitos ‘sacos’. No entretenimento lembrei me
Do Renato ‘Boa Musica Produções’ ter trazido a cantora brasileira Adriana Calcanhoto e do imbróglio do engatado a clássico não fosse o ‘cota’ Marcelino dos Santos a ‘persegui - lo’ para ver se recuperava a ‘mola’ do bilhete para o suposto concerto da Gal Costa no Pavilhão do estrela Vermelha em Maputo e recentemente do tanto esperado concerto do musico brasileiro Gabriel pensador que no fim nem de binóculos o publico moçambicano viu ‘o pensador ‘ pensar na ‘Pérola do Indico, em mais uma ‘finta’ da boa musica produções com Renato no comando
Que mais perguntaria ao Bonga no momento que já não estava disposto a brincar a perguntar pergunta e resposta deixando para mais tarde! Só me restava o promotor do evento.
Mas antes ‘passear’ mais uma vez pelas peripécias que marcaram alguns concertos como o da Gal Costa, não fosse o ‘cota ‘Marcelino dos Santos a ‘caçar’ o homem do ‘saco’ que desapareceu com a mola dos bilhetes e a posterior o prometido concerto do Gabriel O Pensador que não sei dizer se todos tiveram o seu dinheiro de volta ou não, porque o concerto já era antes de ser!
Não é a primeira vez que trazes o Bonga a Moçambique. Qual é o teu segredo nesta área de entretenimento e trazeres pessoas como o Bonga?
Julinho ‘big brother - Não existe segredo nenhum, as pessoas devem pautar pela responsabilidade, fazer as coisas com antecedência. Relativamente ao Bonga que veio a Maputo a convite do ‘big brother entretenimento, dizer que é sempre uma alegria ter uma figura deste gabarito por sinal uma referencia no panorama cultural africano, o qual veio no contexto da comemoração deste grande dia que é o das forcas armadas de Moçambique. Vai ser um momento a não perder.
Quais os requisitos para apostar ou estar nesta área de entretenimento e segundo a sua experiencia podes dar algumas aulas?
Vou dar alguns caminhos que são fazer as coisas com tempo ser honesto com cantor e tentar explicar tudo o que o cantor vem fazer aqui, combinar os ‘caches ‘ e fazer o pagamento, essa é a parte essencial. Se a pessoa for honesta e fazer as coisas com transparência.o artista e/ou os cantores sempre vem. Mas quando existe uma falha na tramitação deste processo que mencionei praticamente as coisas saiem tortas.
Alem de estares de ‘olho aberto’ ao mercado nacional também estas focalizado na arena internacional e quando não há dinheiro suficiente solicitas apoio do outro lado. Como é que é fazer cultura num pais em que se pouco investe nesta área?
Para a cultura progrida num país torna se necessário o envolvimento de todos nós, empresários, empresas, a sociedade, o governo que é sua obrigação de contribuir porque a cultura é a identidade de qualquer povo e se nós queremos ser reconhecidos por outros povos a nível mundial, temos que cria a nossa cultura apoiando-a a para podermos caminhar alem fronteiras e mostrar o que temos o que nós somos.
A quem diga que trazes mais musica Angola, Cabo verdiana. Qual é a sua percepção?
A música Angolana é africana, somos todos africanos e sem querer tirar mérito aos moçambicanos que também são bons, dizer que os angolanos têm boa musica e tento unir os moçambicanos aos angolanos aos cabo verdianos e outros de modo a fazer este intercâmbio que é muito importante e que vai contribuir para a nossa cultura.
Quanto é que vai custar o concerto do bonga durante estes dois dias?
O concerto vai custar acima de 20 mil dólares,.. não têm um valor exacto no qual conto com o patrocínio de algumas empresas como a algumas mCel, as Linhas Aérias de Moçambique (LAM), Executivo 200, Matola gás terminal, Redecar, Classic, são várias. Para que se faca um concerto é preciso um bocadinho aqui e acolá, juntar para fazer uma coisa bonita como esta.
Trazer em palco com o Bonga músicos moçambicanos como Hortêncio Langa, Arão Litsuri e João Cabaço. Desta vez procuramos trazer uma linha dos ‘ cotas’.

1 comentário:

  1. Parabens pelo blog, meu irmao. Note que so hoje consegui acessar ao teu blog, depois de tantas promessas. Mas fiquei muito comovido pela qualidade do conteudo que o suporta, por isso, the sky must be the limit.

    ResponderEliminar