terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Museu Nacional de Etnologia -Nampula
Entrevista ao director do museu Pedro de Etnologia em Nampula Guilherme Columba Estacios Valoi
23/12/09
EV -Etnologia em Moçambique que caminhos?
PC -Museu de etnologia em Nampula fundado a 23 de Agosto de 1956, já na casa dos 55 anos uma instituição cinquentenário, temos mais de vinte funcionários entre auxiliares, administrativos, operários etc.
Na fase colonial o sistema teve preocupação no sentido de conhecer o termo antropológico, etnológico do ser moçambicano mas com uma outra preocupação no sentido de dominar este povo tendo em conta os seus hábitos, direitos consuetudinários.
Após a independência foi conhecer o ser moçambicano para depois trazer a sua identidade, auto estima, a sua cultura, esta é a razão.
Qual é o estagio actual do museu?
PC -Este museu tinha secções, da cinegética, numismática mas depois em 1993 o museu foi transformado no museu nacional com uma vocação especialmente etnográfica e a partir daqui de facto a preocupação é trazer a identidade deste homem moçambicano, posso por assim dizer o bilhete de identidade.
Falta de quadros, é um museu de âmbito nacional e nós aqui precisamos de etnólogos, antropólogos, sociólogos, precisamos de técnicos de vária especialidade, arqueólogos. Recorde se que um museu desta natureza precisa de fazer escavações, viajar pelo pais fora para trazer os encalços daquilo que é o ser antropológico moçambicano, precisamos de recursos humanos. Não temos especialistas e nestas circunstancias é difícil trabalhar e alcançar aquilo que são os objectivos definidos no estatuto orgânico do museu.
Agora estamos a depender da direccao provincial da cultuara, e é curioso porque sendo uma instituição de âmbito nacional na minha óptica é ridículo que esta instituição dependa de uma direcção provincial. Ou é uma instituição de âmbito nacional ou provincial.
Embora falemos hoje da descentralização é necessário que esta dissecação nacional, a do museu da ilha de Moçambique que também é de âmbito nacional e de outras instituições sediadas nas províncias em minha óptica não podem depender da direcção provincial de educação e cultura, mas sim da direcção provincial do plano e finanças.
Há um certo erro no percurso de funcionamento do museu nacional de etnologia e penso que deve ser corrigido. Por mês recebemos do orçamento do estado cerca de 70 mil meticais e, este valor é muito a quem das necessidades.
Sem a componente especializada um dos aspectos que constituem o ‘calcanhar de Aquiles’ para aquela instituição que se pretende se nacional, isto para alem dos míseros 70 mil meticais mensal, uma autentica esmola para tamanha dimensão e objectivos preconizados por aquela instituição, a sua autonomia continua no segredo dos deuses.
EV -Quando faz menção a identidade tema vasto e por vezes controverso?
Podemos dizer que polémico mas não é menos certo que falar da identidade em Moçambique não é mais ou menos que falar da moçambicanidade. O que é ser moçambicano se não a sua forma de estar, viver, fazer as coisas, o seu dia-a-dia, produção nas várias esferas da sociedade, os assuntos fúnebres.
EV -Quem diga que estamos a perder esses valores da moçambicanidade e Africanas não?
PC -Estamos num mundo globalizado, certo que há aqueles aspectos do mundo global que também influenciam, na vida no estar deste ser moçambicano actual. Há uma certa miscigenação cultural mas a luta é para que haja uma simbiose entre o moderno e o tradicional e não uma destruição daquilo que é o tradicional.
Pedro Guilherme Columba director do museu nacional de Etnologia na cidade de Nampula
EV -As tatuagens macondes ainda serteiam divinas e quando ‘e que a escultura atinge o seu auge e vem ao encontro da sociedade no geral?
PC -Estamos a falar de um povo muito talentoso, com habilidades invejáveis de trabalhar o Pau-preto. Mas primeiro falando da tatuagem, não só constituía o ponto de vista de protecção na época da colonização, mas a aquilo que nos chamamos de escravatura doméstica, recorde se que existiam certas divergências entre os makondes, macuas, Ngones e no sentido de mais uma vez este povo se identificar, diferenciar, distinguir com os outros povos.
Ai foi constituindo um símbolo de identidade de todo um povo maconde e também uma forma de se defender dos invasores circundantes da região do planalto dos macondes.
Tatuagem, é um acto de grande coragem, recorde se que o homem é tatuado sem nenhuma anestesia, isto a sangue frio e em alguns casos o processo de tatuagem chega a atingir a massa encefálica o cérebro.
EV- Quando é que o artesanato, a arte makonde atinge o auge vem ao encontro da sociedade?
PC -Agora falando do artesanato. Desenvolvimento, não pode taxativamente dizer que foi no Sec- xvi, xviii que este povo começou a ganhar uma habilidade invejável de trabalhar o pau-preto. Foi todo um processo e ao longo de cada dia foram fazendo as mascaras outros objectos do quotidiano da sua vida e foram desenvolvendo a forma de trabalhar o pau-preto. Dizer que aqui a grande admiração é que trabalham com instrumentos rudimentares mas também num pau de facto petrificado, tornado uma pedra. Num pau e torna-lo num objecto domestico invejável e de facto esta forca da arte do artesanato do povo maconde.
EV -quando é que a arte maconde começa a notabilizar se no pais ?
PC- A arte maconde começa a notabilizar se sobretudo durante e depois da luta de libertação nacional de Moçambique. Depois da segunda guerra mundial encontramos vários objectos de arte maconde espalhados pelo mundo fora, comercializados. Os macondes da Tanzânia, Kenia, nas fronteiras da Republica Democrática do Congo, povos de origem Bantu mas portanto os massais são um povo suegenerico assim como os macondes.
Contudo encontramos os macondes em grosso modo de Moçambique e os da Tanzânia. Então os da Tanzânia foram se espalhando para as fronteiras limítrofes do kenia, Tanzânia, portanto a partir daqui começam a espalhar esta arte e trabalhar o Pau-preto pelo mundo porque também há um interesse mesmo dos colonizadores em adquirir objectos de Pau -Preto feito pelos macondes.
EV - Que esculpiam?
PC -Esculpiam a sua alma e, se olharmos aqui para o museu vamos encontrar objectos de arte maconde que são feitos de certa tatuagem, que recordam certas lagartixas, certos feitos da própria vida social e na verdade inspiravam se no seu ser, faziam e fazem ate aos dias que correm.
EV -Mercado para a venda desta arte e vejo que aqui no museu tem alguns artistas?
PC - Primeiro os artistas são nossos parceiros de facto, naturais e recorde se que também encontramos alguns artesão macondes no museu de historia nacional em Maputo. Para dizer que estes artistas contribuem para tornar a vida dos museus mais activa e dinâmica, porque nós encontramos os turistas a procura dos seus produtos, visitantes e neste aspecto isto é bastante positivo.
EV -Quanto a madeira o pau-preto ainda existe em boas quantidades em Maputo ou já fizeram uma limpeza?
PC -Quer em Nampula, cabo delgado e outras paragens do nosso pais nós encontramos estas plantas em certa medida nas nossas comunidades mas não nos podemos esquecer do fenómeno do desmatamento porque a desflorestação esta a por em causa não só o pau-preto mas também as outras espécies raras das nossas florestas em Moçambique, diria que é um apelo que faço, um ponto que merece a nossa atenção.
EV -Ministério da cultura. Este ano que esta a findar quanto foi desembolsado?
PC- Houve metamorfoses, diríamos esta metamorfose estrutural, o ministério da cultura e depois o ministério da educação e cultura e agora ministérios da cultura, essas mudanças a dada altura são boas mas criam a sua instabilidade do ponto de vista estrutural e agora tenho dito que é bem-vinda a existência do ministério da cultura, porque conectados ao ministério da educação e cultura e se temos prioridade de construir uma escola, um palco a céu aberto a prioridade vai ser a escola. Entre formar um dramaturgo e um professor a prioridade vai ser o professor.
EV -Autonomia financeira do museu?
PC - Recursos financeiros e eu não deixo de falar disto porque sem meios nada se pode fazer para por o museu a altura daquilo que é a sua vocação.
Tivemos algumas vantagens, mas muitas desvantagens. Agora, havendo só o ministério da cultura independente, as prioridades próprias do ministério serão resolvidas dentro dos prazos definidos. Infelizmente dado a redução e a contenção das despesas não é possível criar se uma estrutura cultural independente nível dos distritos, províncias.
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