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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

“ Na Zambézia não há problemas de fome ou bolsas ”


Fracasso ou não da “revolução verde”
“ Na Zambézia não há problemas de fome ou bolsas ”
Texto e fotos: Estacios Valoi
11/11/10
A luz do inquérito dos Orçamentos Familiares de 2008/9, uma pesquisa do Instituto Nacional de Estatística (INE) parceira do Ministério de Planificação e desenvolvimento ilustra que as politicas de luta contra a pobreza ‘ revolução verde’, apanágio do governo são um fracasso em Moçambique.
Recentemente mais um relatório da Inspecção Geral de finanças na posse de um dos jornais da praça reitera o descalabro em que as políticas do Governo de Armando Guebuza não respondem as necessidades do Pais. O relatório de auditoria do sector agrário em Moçambique produzido para a Inspecção Geral de Finanças (IGF), pela empresa de consultoria “Eurosis”, elaborado a esteira do apoio orçamental que vem sendo feito pela comunidade internacional, este é um dos instrumentos de medição do impacto das verbas disponibilizadas pelos países mais ricos.
No Inquérito sobre os Orçamentos Familiares a Província da Zambézia é a mais visada com o maior índice de pobreza evidenciando a inoperacionalidade em que o sector agrário se encontra a deriva, contudo o director da Agricultura desta Província Mohamed Rafik Vala categoricamente afirma que a província sob sua tutela não é pobre e que muito menos regista casos de bolsas de fome e generaliza.
“ Neste momento não há problemas de fome mesmo das bolsas na Zambézia. E vou falar da produção agrária no geral a Zambézia ate a presente época do ano fez uma área de 1.262.000 hectares para uma produção de 3.442.000 toneladas de produtos diversos, com ascendência para tubérculos como a Mandioca e Batata-doce, cereais sobre tudo o Milho, Mapira e Arroz. Na análise da segurança alimentar que temos feito, grande parte da população tem alimentos para suplantar aquilo que é a dieta dos agregados familiares, sobre tudo no meio rural”.
‘Já há um ascendente razoável na produção de culturas de rendimento como a Soja no Distrito de Gurue, Gergelim no distrito de Mopeia e Murrumbala. Tabaco no Distrito de Alto Molocue, Gurue, Milange e um pouco em Namaroe. Culturas de rendimento nos Distritos de Pebane, Gile, Maganja da Costa, Mocuba e de alguma forma o Distrito de Namacura’.
O Amendoim que começa a ter um ascendente muito forte para o mercado. Hoje grandes retalhistas do Sul do Pais vem a Pebane, Ile comprar o Amendoim a um preço de 12mil meticais o quilograma que depois é vendido no mercado de Xipamanine a cerca de 40 mil meticais. Há dinheiro nas mãos dos produtores, podem comprar o produto que lhe falta para a família ter um equilíbrio”.
Mas é exactamente no meio rural onde os 7 milhões apadrinhados pelo governo de Guebuza estão alocados e que segundo os relatórios constata se a maior problemática da fome. Zambézia não é nenhuma ilha isolada.
Vala contradiz se reiterando que a questão das bolsas de fome estão em zonas inóspitas com alguma baixa precipitação em termos de pluviosidade no padrão de 300/400 milímetros ano, solos com muita baixa fertilidade.
“ Segurança alimentar é um leque de actividades desde a produção agrária, pesqueira do carvão... Se as pessoas tiverem um desses produtos e vender obviamente que tem dinheiro para comprar farinha, por isso na Zambézia a mais de dois, três anos que não se houve falar de que há pessoas que morreram a fome. No Distrito do Ile produzimos Mandioca e este ano saiu bem, uma das campanhas soberanas que deu até o mês de Junho
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o homem deve nutrir se em 2100 calorias dia, o que significa mais ou menos 415/420 Kg de alimentação equilibrada. Europa no velho continente significa que um homem adulto deve ter as 4 refeições do dia. O que esta a acontecer nestas zonas que nós denominamos com algumas bolsas de fome, é que as populações não têm este rigor de nutrição alimentar”.
“Não devemos inventar outra revolução, a índia e o México fizeram a revolução verde não em cinco, seis anos, mas desde o tempo do Gandi e perdurou cerca de 18 anos. Foi sendo mudada, comutada a medida que se iam notando alguns obstáculos. Dizer que estamos no bom caminho e hoje a Província da Zambézia estrategicamente quer reeditar muita força na política agrária tendo mais empresas a fomentar culturas, mais ‘ Know How’ aos próprios produtores, fortalecer o recurso humano. Muitas das vezes tenho denominado que o professor tem que estar no meio rural com o camponês para ensinar com as tecnologias.
Enquanto Vala passeia pela, índia, Vietname, Europa, aqui na Cidade de Quelimane há pessoas que tem menos de três refeições dia, isto para não fazer menção as verdadeiras empresas de mendicidade que se registam e com a ‘revolução verde” convido o director a um périplo por um dos Distritos com problemas de fome, Chinde e, talvez optar por uma revolução cor-de-rosa considerando a importância da agricultura de subsistência.
“O próprio produtor tem que trabalhar mais, com enxada de cabo curto, a tecnologia é importante e temos que assumir que tem que ser eficiente, por isso estamos a promover a atracão animal a utilização de tractores. A agricultura de subsistência tem um paradigma importante é que esta é feita intrinsecamente para a produção de alimentos, uma das coisas que em termos de estratégia do governo da Província o desafio é produzir para ter os seus alimentos ou pelo menos uma ou duas culturas de rendimento para a pessoa poder ter qualquer coisa para ir ao mercado”.
“Estamos a trabalhar com a população na Zona de Mapira, Mugogodo, Posto sede em Mopeia, Megaza onde recentemente saiu muito tomate, o feijão bóer da última colheita porque atrasou esta sendo comercializado desenfreadamente, vendido a 15 meticais o kg, tem a Mandioca, tem o feijão bóer e se ele vende pode ir comprar outros produtos.
De uma forma geral o status da segurança alimentar neste momento em que estamos, Outubro é razoável e queremos ir para estas zonas inóspitas a que me referi. Na África Austral, países como a Zâmbia, Zimbabwe, Malawi utiliza se a agricultura de conservação, isto é, conservar a própria humidade, chove pouco conserva e a cultura garante o processo vegetativo mas para isto tudo é preciso que tenhamos o recurso humano, o agente de extensão para estar próximo do próprio produtor”.
Quanto ao referido nos relatórios sobre a Zambézia ser a Província com maior índice de pobreza no Pais o timoneiro do pelouro da agricultura nesta parcela do Pais Mohamed Rafik Vala dá azo as suas convicções
“Não gostaria de desenvolver isto. Tenho convicções próprias de um indivíduo que trabalha a mais de 20 anos no terreno e agrónomo como tal desmistificar de mim mesmo que a pobreza é muito relativa. Uma vez estive no Vietname e disseram me, esta família ou comunidade há cinco anos era pobre mas hoje já não é tão pobre. Se olhar para estas famílias e fazer uma comparação com a zona Sul do Pais onde há mais latifundiários, melhores oportunidades, se um indivíduo hoje tem uma bicicleta então comparando a um sujeito que tem um carro eu sou pobre porque ainda não consegui acumular para igualar ao meu vizinho. Mas psicologicamente o individuo que tem a bicicleta esta preparado para dizer que eu já consegui resolver parte do meu problema”.
“Não quero falar do inquérito porque este teve como base bens de consumo e falo com alguma convicção e propriedade da informação que estou a passar, em Milange, Gurue, Namaroe, eventualmente Murrumbala, zona do Chire as pessoas já tem melhor meio de comunicação. Um dos elementos de análise de pobreza na Índia e que foi ultrapassada constatou se que toda a população tinha rádio e as mensagens do governo eram ouvidas, desde saúde em diante e eram acatadas, contudo era preciso trabalhar mais com as pessoas e, este ambiente todo já aparece na Zambézia.
Nestes estudos são importantes os aspectos culturais, sociais e mesmo antropológicos das famílias que não são avaliadas e muito menos especuladas pelos indivíduos que fazem o estudo”.
Por um lado existem casos de produção excessiva aqui e mas adiante bolsas de fome. Não é preciso ir as índias para constatar estes dados.
“Nós precisamos de aprimorar a nossa rede de comercialização, maior cobertura. O governo esta a controlar mas hoje os retalhistas por exemplo, estão em barracas. O Governador da Província já emanou uma orientação que os chefes das localidades devem saber quem comercializa o que para termos um status estrutural a partir da base e saber o que esta a acontecer. Concordo plenamente que em desenvolvimento ainda temos fraquezas.
Na campanha 2003/4, por ai este ano ouvia se a palavra fome na província da Zambézia. No quinquénio passado ate 2009, ultrapassamos. Agora a grande parte da população não só tem produção para comer mas também para ir ao mercado, algo muito importante em desenvolvimento. Portanto temos que modelar melhor o nosso sistema de comercialização dentro das cantinas rurais”.
“Sei que a rede de estradas na Zambézia é razoável e permite que os que pretendem fazer a comercialização possam levar o produto de um lugar para o outro e talvez ai tivéssemos que fazer um outro tipo de análise que não seria só a estrada. Alguns transportadores não estão bem induzidos e catalisados a entrar nesta rede, afirmo de fontes muito informais que o custo do transporte fica caro.
Mas acredito que as grandes empresas com uma outra estrutura económica que tem vindo a zona de Murrumbala comprar Milho não põem esta questão em causa. Uma das assunções que defendo é paulatinamente potenciar as pequenas e medias empresas não só da área agrária mas outras. São transversais para termos um equilíbrio desde a cadeia de produção até ao mercado completando a de valor sem grandes ruídos ou fraquezas e neste sistema o produtor é que ficará a ganhar”.

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