Os Rubis de sangue de Montepuez
Cerca de uns 40 por cento
de rubis no mundo encontram se numa das concessões minerais moçambicanas, cujo
modus vivendo ‘é padronizado pela violência e mortes contradizendo o tao
propalado “ recurso responsável.”
Por Estácio
Valoi
Maio 3, 2016
Moçambique-Montepuez. Mila Kunis, encarna exactamente o
tipo de mulher, jovem, sensual, enigmática, influente que Gemfields,
a líder mundial no fornecimento de pedras raras colorida, Rubis, Esmeraldas
deseja como sua embaixadora. A actriz de Hollywood dos seus 32 anos de idade,
bem conhecida pelo seu papel interpretado nos filmes Black Swan e Oz the Great
e Powerful”, no seu mais recente curto
vídeo promocional para Gemfields, onde a estrela de Hollywood, aparece
exibir jóias feitas por designers de topo com pedras exploradas em Montepuez, a
maior concessão mundial de rubis, uma das últimas aquisições da Gemfields.
Localizada a norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado-Montepuez,
presume-se que a concessão detenha 40% do fornecimento da pedra preciosa
mundialmente conhecida, desde a antiguidade associada a riqueza e realeza.
O vídeo
promocional é carregado de uma qualidade de algo imaginário. As aparições
eloquentes da Kunis, adornada com o que a empresa baseada no Reino Unido
descreve como "a pedra mais preciosa e venerada do mundo", quase que
num movimento sensual sedutor vai flutuando no ecrã de dentro para fora
vice-versa, seus lábios carregados de uma tonalidade forte de batom vermelho
condizendo com o brilho dos brincos, pulseiras e colar salientes, cuja sua
essência é enaltecida pela sua pela descolorada. Para Gemfields, que gasta uma
quantidade substancial da sua receita para trazer pedras preciosas coloridas
"de volta para a sua posição de direito, pelo menos, igual aos
diamantes", como refere o líder do executivo da Gemfileds, Ian Harebottle
em uma entrevista em 2011, Kunis tem
sido a combinação perfeita.
Na hecatombe de diferenciar os diamantes das suas pedras
preciosas vermelhas, que tornaram visivelmente associadas aos conflitos de
sangue, a Gemfields encontrou alguém que “partilhou (os seus) valores do
sistema, “conforme diz Harebottle num vídeo promocional sobre o trabalho da
Gemfields em Moçambique.
Para a empresa, muito está em jogo. Nos
recentes leilões, os r\Rubis de Montepuez renderam a empresa 689 USD por
quilate, 10 vezes mais que o preço das Esmeraldas da Gemfield que em 16 leiloes
apenas conseguiu arrecadar USD 276 milhões. Os leiloes dos Rubis de Montepuez
são extremamente concorridos, gerando para a empresa milhões de dólares de
lucro: Junho de 2014 em Singapura (2014) foram 33,5 milhões em lucros. Desde
então, associando a isto, mais 122,2 milhões encaixados em receitas acumuladas.
Os impostos e Direitos Legais pagos a Moçambique, também engrossaram os cofres
do Estado.
Mas, com o
valor que se torna mais do que evidente no mercado do que tinha ficado mal
ficara escondido por baixo da terra avermelhada do norte de Moçambique durante
milhões de anos, pois tensões e conflitos violentos, por vezes mortais,
tornaram-se comuns em Montepuez.
Faz 7 anos
desde que os primeiros depósitos de Rubis foram descobertos em Montepuez no
norte de Moçambique, onde a concessão da Gemfields encontra-se localizada sob
égide da subsidiária Montepuez Rubi Mining que detém 75 por cento, populações
nativas dizem que tem sido forçadas a abandonar suas terras; uma escalada de
violência e assaltos à mão armada enquanto especuladores tomaram a área de
assalto, e o número de mineiros artesanais que vão sendo brutalmente agredidos,
abatidos a tiro vai aumentando. Alguns dizem que os mineiros artesanais têm
sido enterrados vivos.
A
procuradora geral da República (PGR) Beatriz Buchili, no dia 21 de Abril do
corrente ano visitou a Mineradora, áreas de exploração de Montepuez com o
intuito de investigar os casos de violência.
Num
pronunciamento escrito, a empresa diz: “Gemfields categoricamente refuta
qualquer dedução, acções, sanções com recurso ao uso violência. Quer por parte da
Montepuez Ruby Mining Ltd assim como os seus agentes, empregados ou contratantes
estão envolvidos em actos intimidatórios com recurso a violência contra a
comunidade local.”
Ricaços de sangue vermelho
Descoberto por um camponês em 2009,o depósito de Rubis de
Montepuez foi tomado de
assalto pelo Instituto de Gemologia da América como “ a maior descoberta de
Rubis” do século XXI. As gemas são de uma qualidade excepcional, cor e brilho.
Então é menos preocupante que o achado tenha atraído estrangeiros e
Moçambicanos inclusos, todos conduzidos pelo mesmo desejo: Enriquecer a todo
custo.
Um dos
indivíduos é o Gen. Raimundo Pachinuapa, membro da Frente de Libertação de
Moçambique ou FRELIMO, antigo governador da Província de Cabo Delgado, onde
Montepuez fica localizado. Pachinuapa alegou que a terra pertencente aos
camponês que inicialmente descobrira os Rubis. O general diz ter pago
pelos direitos a terra. Mas os membros do Comité de Gestão comunitária de
Namanhumbir – Uma organização local na área de mineração de Rubi a cerca de 155
quilómetros a Este de Montepuez que assiste as comunidades em questões como
Direito a Terra e Recursos – diz que o general não pagou. E, descreve o acto
de, usurpação de Terra.
Suleimane Hassane
é o camponês em questão, pobre e iliterato, não esta a altura de Pachinuapa e
não podia estar a par dos seus direitos a terra a confrontar o general de forma
a reaver a sua terra, injusto, firmam os membros do comité. O Banco Mundial
reconheceu que nas zonas rurais em Moçambique, o direito a terra é um problema
de contendas onde os títulos de terra são geralmente menos claros e membros do
governo têm se apropriado de forma doentia – cidadãos abalizados na usurpação
de terra.
Pouco tempo
depois de Pachinuapa ter adquirido a propriedade, a empresa Mwiriti da qual o
general é co- proprietário, obteve uma licença para a exploração do depósito de
Rubis. De acordo com o BR, a empresa Mwiriti Lda. foi registrada como uma
distribuidora de bens a grosso e a retalho, tais como equipamentos de
escritório, construção e não para exploração mineira. Em Novembro de 2009, de
forma a cobrir os 33.5 mil hectares, ou da recente descoberta dos cerca de 386
m² de depósito de Rubis. A empresa alega ter adquirido a terra legalmente.
Atenta, a partir de Londres, a Gemfields acompanhava o desenrolar
dos acontecimentos em Moçambique.
De Londres,
atenta, a Gemfields acompanhava o desenrolar dos acontecimentos em Moçambique.
Com o final dos 16 anos de guerra civil estabelecido em 1992, abre caminho para
o sistema multipartidário democrático sob leme da FRELIMO. Em 2009, o país
aderiu à Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas (ITIE),uma
organização internacional dedicada a melhoria da transparência no sector das
indústrias extractivas, tornando a descoberta de rubis muito mais atractiva
para o gigante Inglês das pedras preciosas, já detentora das minas de Esmeralda
na vizinha Zâmbia.
Ao
mesmo tempo, Pachinuapa procurava parceria estrangeira para explorar o recurso
no subsolo. Pelos seus anos na FRELIMO, e como governador de Cabo Delgado, bem
posicionado no seio do governo Moçambicano, Pachinuapa era um homem que podia
puxar os cordelinhos na alta esfera.
Em Junho de
2011, a empresa britânica faz uma “joint
venture” com a Mwiriti de Pachinuapa, tornando-se na Montepuez Rubi Mining
Company (MRM), onde a Gemfields fica com o controlo da mina adquirindo a
participação maioritária de 75% na nova empresa e, Harebottle, como Director
executivo da Gemfields presente no corpo Directivo da MRM.
Em Fevereiro
de 2012 o governo moçambicano atribui a MRM uma licença de exploração mineira
de uma área de cerca de 33.000 hectares em Montepuez durante um período de 25
anos. Pachinuapa e o seu parceiro Asghar Fakhralealii, juntos detêm os 25 por
cento das acções e, Fakhralealii permanece no corpo directivo. Raime
Pachinuapa, filho do general Pachinuapa é o chefe dos recursos humanos – social
da empresa. Contudo, o general em si não ocupa nenhum cargo dentro da MRM
deixando todas as questões a cargo da Gemfields a qual afirma que na aquisição
da terra, foram seguidos todos os procedimentos legais do direito a terra e
licenciamento segundo legislação Moçambicana.
“Contrariamente a tantos outros empreendimentos na
mineração em África, no website da
Gemfields, Harebottle promete que empresa vai pautar pelas boas práticas
"definir novos padrões ambientais, sociais e de segurança no sector das
pedras preciosas coloridas."
O que de
facto aconteceu durante os últimos três anos em Montepuez enquanto a MRM
escavava mais de 100 milhões de dólares, valor proveniente dos Rubis no
subsolo, foi algo completamente diferente do prometido por Harebotlle. Numa
investigação para a 100Reporter que durou três anos – incluindo 10 viagens as
áreas de mineração, mais de 50 entrevistas com mineiros artesanais nas suas
áreas de exploração, autoridades locais, e um exame minucioso de casos
judiciais em tribunal revelaram um elevado número de casos preocupantes
relacionados com os direitos humanos na região de mineração da MRM, ilustrando
que Gemfields e os seus parceiros não têm conseguido definir novos padrões de
ética na mineração, seu comprometimento assim como também estão associados ao
aumento de casos de graves violações dos direitos humanos, da terra.
Gangs e ladroes
(Foto dos garimpeiros)
Assim como no século XIX na América, a corrida pelo ouro
atraiu exploradores próximos ou longínquos, a corrida aos Rubis em Moçambique
levou a um fluxo de mineiros artesanais pobres,
compradores não licenciados contrabandistas, pessoas de idade mediana, de
conduta duvidosa e gangs de ladrões-todos na procura de explorar o Rubi do rico
solo vermelho. Para proteger a considerável concessão da mineração artesanal,
inicialmente a MRM contou com duas forças de segurança governamentais- Polícia regional de protecção, apoiada pela unidade
de elite militar - Força de Intervenção Rápida (FIR).
Juntando a
estas forças, a MRM alberga cerca de 109 homens da sua segurança interna
patrulhando e assegurando a propriedade da empresa. Também contractou a Arkhe
Risk Solution a força de segurança privada, subsidiária da firma sul-africana
Omega Risk Solutions com uma larga experiência nos serviços de protecção da indústria
extractiva. A Arkhe Risk Solution emprega aproximadamente 470 homens destacados
para proteger a MRM, incumbidas de guarnecer a concessão, prender mineradores
ilegais e entrega-los a polícia. A Gemfileds disse que os seus guardas internos
estão desarmados e que os seguranças da Arkhe têm apenas 12 espingardas
fornecidas e usam bala de borracha e duas pistolas, o que significa que 3 por
cento das suas forças são portadoras de armas de fogo.
As forças
governamentais e privadas trabalham em conjunto. Sob o termo de
comprometimento, a MRM providencia a assistência logística as forças
governamentais incluindo acomodação, segundo o declarado por escrito por parte
da Gemfields. Enquanto as forças governamentais têm um mandato específico de
guarnecer os depósitos de Rubis de Moçambique, quer dentro e fora das
concessões da empresa, não estão sob o comando da MRM e muito menos prestam
contas a empresa. Disse a Gemfields.
Enquanto a
violência aumenta em Montepuez, no ano transacto o governo substituiu a FIR com
a Força de Protecção Ambiental e de Recursos Naturais, a polícia é geralmente
consignada para proteger terras pertencentes ao estado, da floresta, fauna
bravia ao contrabando de madeira.
O que tem coberto de
medo as comunidades de Montepuez através das assombrações dos gangs de
malfeitores localmente conhecidos de “Nacatanas,” munidos de catatanas.
Segundo testemunhas oculares de residentes
comunitários e mineradores artesanais ilegais, os Nacatanas, homens a paisana,
operam nas áreas de concessão da MRM, infiltrando-se nas áreas dos mineradores
artesanais munidos de bengalas feitas de pau – preto e catanas, infringindo
golpes aos mineiros, perseguidos pela mata adentro. O seu comando estrutural é incerto.
A Gemfields afirma que nenhum dos seus funcionários ou seguranças andam munidos
de catanas. Mas a presença destes na concessão mineira da empresa é
irrefutável. O Jornalista os viu residindo nas casas da empresa juntamente com
as forças governamentais nas instalações da MRM assim como viu os dispersar os
mineradores artesanais perante ordens de um oficial da segurança da MRM. Em
entrevista com mineradores, polícia local, procuradores e líderes comunitários,
afirmar que os nacatanas fazem patrulhas na concessão da MRM nas áreas destes
mineradores de pequena escala. Num vídeo
produzido pelo Instituto Gemológico Americano ilustra disparos sendo feitos num
confronto declarado, por homens de catanas e bastões nos tuneis escavados onde
um deles estava trajado de uma camisete de cor preta com a palavra “Segurança,”
perseguindo mineiros para fora da concessão da MRM.
"As
vezes os guardas de segurança vêm apenas para extorquir os nossos bens,
incluindo dinheiro e telefones celulares. Às vezes temos de nos esconder no
mato. Mas quando eles vêm com os chefes, pessoas brancas, somos sempre
espancados e às vezes baleados ",disse um mineiro artesanal que pedi-o que
não fosse identificado por temer represálias. Outros mineiros, também fizeram
declarações similares.
A MRM
remeteu todas as perguntas a sua empresa sócia. Gemfields disse estar a
investigar a razão do tiroteio no vídeo da GIA. No entanto, veementemente a Gemfields nega que os
Nacatanas trabalham para a empresa, mas disse estar a par do termo Nacatanas, e
entende que o mesmo é usado para descrever gangs agressivas associadas aa
diferentes grupos de mineiros artesanais que operam nos depósitos de Rubis, não
apenas naqueles na concessão da MRM.
“As alegacões Segundo as quais a MRM ou qualquer
um dos seus contratados apoia os seguranças informais denominados de Nacatanas,
armados de catanas não são apenas categoricamente infundadas mas também
absurdas e profundamente ofensivas.” Disse a Gemfields num pronunciamento
escrito.
Dado a
densidade da mata e a dimensão da concessão da MRM, facilmente os mineiros
artesanais, conhecidos por garimpeiros operam sem dar nas vistas. Mas para encontrar
o Rubi, os garimpeiros têm de fazer covas profundas, deixando vulneráveis
profundidades adentro ao longo dos túneis estreitos quando são descobertos.
Segundo
testemunhas e relatórios em tribunal os Nacatanas não são os únicos que atacam
os garimpeiros, as forças governamentais uniformizadas também os fazem.
Geralmente quando as forças de segurança deparam-se com esses mineradores
artesanais, a retirada dos garimpeiros da cova a superfície é compulsiva e, por
vezes recorrem aos Bulldozers para fechar os túneis. Mas de acordo com
testemunhas, os garimpeiros têm sido agredidos, abusados e por vezes mortos
durante essas expulsões.
"Meu
filho António Gerónimo foi morto a tiro pelos homens da FIR em
Ncoloto-Namanhumbir” Disse Gerónimo Potia fazendo referencia a área mineira
dentro da concessão da MRM em Cabo Delgado. "Ele morreu a caminho do
hospital rural.”
O pai de
António disse que após o filho ter sido baleado no mês de Abril do ano
transacto ninguém da MRM ou da Polícia se dignou a ajuda-lo.
Um grupo de
exploradores Tanzanianos e Somalianos juntaram algum dinheiro para leva-lo ao
hospital, pagar pelo transporte e assistência médica. António morreu a caminho
do hospital, eles amarraram seu corpo sobre mota e levaram o corpo para casa
para o funeral.
Manuel
Artur, um garimpeiro dos seus 18 anos de idade teve o mesmo destino. Seu pai
Artur Pacore disse que alguns dos colegas do seu filho viram um segurança da
FIR disparar sobre Manuel no abdómen. “ Ele arrastou-se a uma distância de 100
metros mas não sobreviveu. Morreu a caminho do hospital de Namanhumbir. Disse
Pacore.
Jorge
Mamudo, um mineiro artesanal, disse que no dia 7 de Julho de 2014 foi baleado
em sua perna direita por um membro da FIR, em Ncoloto dentro da área da
concessão da MRM. "Quando os homens da FIR chegaram eu estava num buraco.
Eles disseram-nos para sair da cova. Levei cerca de cinco minutos e quando eu
saí, um membro da FIR disparou a queima-roupa um tiro no meu pé e foi embora.
Alguns Somalianos e Tanzanianos ajudaram-me ", disse ele.
A FIR,
solicitada pela nossa reportagem não aceitou dar entrevista. A Gemfields disse
que no dia 22 de Abril de 2015 o governo Moçambicano substituiu a FIR pela
Força de Protecção de Recursos Naturais e Meio Ambiente composta por 35
elementos mandatados para proteger a riqueza natural moçambicana, operando em
volta da concessão ou sob égide da empresa
No entanto, os mineiros disseram que geralmente com o
medo de serem espancados ou baleados pelos agentes da segurança ou de terem de
entregar aos seguranças o rubi encontrado, não saem dos tuneis. As
consequências são desastrosas.
Abdul, um mineiro artesanal da
aldeia Muaja próxima de Montepuez, disse que também esteve presente quando o
seu primo foi enterrado pelo que ele descreve ser uma escavadora da MRM.
"Três de nós estávamos dentro de um buraco com 3 a 4 metros de
profundidade. Dois de nós saímos para esconder os rubis no mato, cerca de 100
metros de distância da cova, deixando para atrás o meu primo. Quando voltamos,
vimos um buldózer fechando a cova com areia. Meu primo ainda permanecia lá
dentro. "
Em resposta
escrita sobre o nosso questionamento, a Gemfields disse que iria verificar nos
seus relatórios para apurar se o primo do Abdul tinha sido soterrado no
deslizamento de terra da mina que ele tinha escavado. “ As alegacões segundo as
quais a MRM enterra vivos os mineradores ilegais com recurso as suas máquinas
escavadoras sobre as suas escavações enquanto estes permanecem dentro daquelas,
não são solidas.”
Enquanto a
sua política é de fechar e retirar os mineradores artesanais da concessão da
MRM, Gemfileds disse que pauta por um processo rígido para assegurar que
nenhuma máquina da MRM alguma vez tenha morto um mineiro ilegal em plena
escavação quer por acidente ou intencional.
As
autoridades locais dizem não haver forma de verificar se os mineradores estão
encurralados nas covas. “A dimensão dos tuneis é profunda e longa, não podemos
afirmar que nenhuma morte tenha ocorrido” disse Arcanjo Cassia Administrador de
Montepuez. Um comité encontra-se a investigar no terreno a as mortes para
determinar se foram causados pelo colapso dos túneis ou pelas máquinas que são
conduzidas sobre as minas para fechar as minas artesanais. Enfatizou Cassia.
Os responsáveis pela mineradora em Londres foram
informados sobre o nível de violência e os problemas de segurança na sua
subsidiária, MRM. Num relatório de Julho de 2015, elaborado pela firma SRK
consulting a mando e para Gemfields, a firma britânica escreve “O conflito com
os mineiros ilegais constitui um dos riscos mais significativos na MRM... Relativamente
a questões sociais.” Na verdade, o aumento do número de garimpeiros em torno da
concessão MRM levou a confrontos cada vez mais violentos com as forças de
segurança.
Segundo
Cassia, o aumento do número de garimpeiros dentro e em torno da concessão
deveu-se ao aumento generalizado da violência. Entre Dezembro de 2013 e 2014, o
distrito registou o seu maior índice de criminalidade jamais visto com média de
um assalto por dia. Quinze boleamentos mortais tiveram lugar no mesmo período,
incluindo seis assassinatos ocorridos durante o dia entre Junho e Agosto de
2014. Os registos de 2015 ainda não foram apurados.
O procurador
de Montepuez Pompílio Xavier Uazanguiua, atribui a maioria dos crimes a
crescente tensão entre as forças de segurança armadas destacadas para a
protecção dos depósitos de Rubis e os mineradores não licenciados na exploração
das gemas. “As nossas forças são as que usam armas de fogo e não os mineiros,”
Disse o procurador numa entrevista a nossa reportagem.” Alguns elementos da
segurança foram julgados e condenados.”
Entre
Janeiro de 2013 e Janeiro de 2015, a procuradoria de Montepuez processou mais
de 10 casos contra elementos da polícia, mais 35 a 40 casos relacionados com
assaltos a mão armada alegadamente protagonizados por elementos da polícia que
roubavam as pessoas locais e mineiros. Num outro caso, dois elementos da
polícia foram condenados por roubo a uma residência com recurso a arma de fogo.
Disse Uazanguiua, procurador de Montepuez.
No tribunal
distrital de Montepuez, com o agudizar de crimes, deu lugar a acumulação de
cerca de 950 casos por julgar, assim como no tribunal provincial de Pemba. Numa
zona remota do país como esta onde os registos são arquivados em papel, onde os
tribunais não estão informatizados, é extremamente difícil seguir estes casos,
tornado ainda mais árdua a tarefa de determinar até que ponto a segurança
privada ou as forças governamentais estão incumbidas de proteger a concessão da
Montepuez Ruby Mining são responsabilizadas pelas mortes e assaltos reportados.
Dos nove casos julgados e condenações relacionados a ataques e assassinatos
envolvendo elementos da segurança na região de mineração de Rubis desde 2012,
as forças de segurança governamentais, até aqui, estão implicadas em seis
casos.
A Gemfields
disse que esta ciente do tiroteio protagonizado pela FIR que resultou na morte
de dois mineiros ilegais, um Moçambicano e outro Tanzaniano que teve como palco
a área da concessão da MRM, assim como dois elementos da segurança privada
Arkhe foram acusados de violência incluindo uma morte. Disse o porta-voz da
Gemfields.
Severiano
Francisco segurança da Arkhe foi julgado pelo boleamento mortífero de Calisto
Carlos durante confrontações contra cerca de 300 mineiros ilegalmente
envolvidos na escavação ilegal de Rubis na concessão da MRM no dia 6 de Julho
de 2012. Dr.ͣ Essimela Momade do tribunal provincial em Pemba, com base em
evidências relacionas com o caso apresentado em 2013 concluiu que as mesmas
eram inconclusivas culminando na soltura de Severiano sob residência fixa. O
procurador-geral de Montepuez cujo seu tribunal compilou o caso disse estar a
investigar para saber o que aconteceu para que o réu fosse absolvido.
Gemfield comprometeu-se a investigar outros casos.
Muitos dos
casos graves envolvendo mineradores artesanais continuam por ser investigados.
Segundo garimpeiros entrevistados neste artigo, elementos dos Nacatanas
infiltraram-se nas fileiras dos mineiros para descobrir o caminho de pedras
preciosas.
Quando os
Rubis são encontrados, os mineiros são retirados a força, por vezes com graves
consequências, mas alguns dos ataques e matanças nunca são oficialmente
reportados por medo de uma retaliação, disse Uazamguiua, o Procurador-geral de
Montepuez.
Gemfields
nega que os Natacanas sejam empregados ou patrocinados pela MRM, sendo
contrariado pelo Procurador-Geral de Montepuz, autoridades locais, mineiros e
até mesmo o segurança pessoal da empresa que falou com este repórter na
condição de se manter no anonimato por medo da sua segurança.
A violência em Montepuez interveio na expansão do governo na
área da expansão industrial onde se tem visto moradores sendo forçadamente
expulsos das suas casas. A 15 de Setembro de 2014, mais de dois anos depois de
a Gemfields ter adquirido direitos de concessão através de uma conversa com a
MRM, a operação da FIR queimou cerca de 300 casas no mercado da vila de Namucho
e Ntoro, em Namanhumbir região de Montepuez, e espancaram os residentes, de acordo
com a entrevista com o chefe da vila, residentes locais e mineiros artesanais.
Uma queimada semelhante ocorreu em Setembro de 2012, onde a FIR e a Policia de
protecção alegaram ter sido necessário limpar a área de mineração antes da
visita do Ex-Presidente Armado Guebuza.
“Eles levaram as
nossas terras e queimaram as nossas casas”, disse um morador, cujo testemunho
foi repetido por outros.
“Eles
levaram as nossas terras e queimaram as nossas casas”, disse um morador,
cujo testemunho foi repetido por outros. “ E agora eles também nos querem fora
de nossas vilas, para abandonar as nossas tradições e nos mudarmos para um
lugar onde não tem água e a terra não é propícia para a agricultura. Nós não
vamos sair, mesmo que nos matem aqui”.
Ali Abdala,
antigo residente da vila de Naucho-Ntoro comunidade de Montepuez, acusou os
representantes da MRM de forçar residente a assinar documentos concordando em
entregar as suas terras com a promessa de que não teriam que se mudar. “ Eles
nos mentiram”, disse Abdala amargamente.” Porque somos pretos e pobres, a
empresa pensa que podem fazer aquilo que lhes bem entender”.
Membros dos
2,000- forte comunidade de Ntsewe em Namanhumbir confirmaram que Abdala alegou
que as pessoas nunca foram informadas que precisavam de se mudar.
Gemfields
disse que a “libração” das comunidades locais foram realizadas longe das forças
estaduais e de acordo com as leis de Moçambique. Estruturas só foram apuradas
apenas “após a devida notificação ter sido divulgada, e o devido cuidado foi
tomado para garantir que eles estivessem vazios e que tivessem abandonados
antes da liberação,” disse Olivia Young a porta-voz em Londres para a
Gemfields, por email ano passado. De acordo com a Young, as estruturas
destruídas foram construídas de forma ilegal pelos imigrantes recém-chegados;
esses habitantes com terras históricas legitimas foram registrados para o
reassentamento, que ainda esta por ocorrer.
Mas a SRK em relatório encomendado pela Gemfields pinta
um quadro um pouco diferente. O repórter disse que poderia encontrar provas da
mineradora se engajar em discussões abrangentes com a comunidade de Ntsewe e
outras partes afectadas no que diz respeito a remove-los de suas casas e
terras. “Evidências do envolvimento das partes interessadas de todas as partes
afectadas estão ausentes” leu o repórter.
Perguntada por estas alegacões, a Gemfiels disse em uma
declaração por escrito em Março que ágio legalmente e que “discussões intensas”
com a comunidade local ocorreu. Apenas uma vila, Ntoro, tem a sorte de serem
realocados no âmbito de um plano apresentado pelo governo, enquant0 95 famílias
conseguiram um “ acordo amigável” para que pudessem receber uma recompensação
em conformidade com a legislação Moçambicana, disse a Gemfields.
“ A MRM permanece totalmente de acordo com as
leis de reassentamento em Moçambique e trabalha em estreita colaboração com as
autoridades e comunidades que podem ser afectadas pelo reassentamento. Portanto
a insinuação de que isto seja “uma apropriação de terras” é absurda, disse a
empresa em sua declaração.
Enquanto a
Gemfields faz o seu marketing como criador de “ novos padrões de segurança
ambiental e práticas sociais na indústria de mineração da pedra colorida”,
alguns daqueles cujo moram em suas terras com tesouros no subsolo, disseram que
foram despidos do seu meio de subsistência sem que as suas vozes fossem
ouvidas. O relatório da SRK ilustra que encontros que tiveram lugar em Março de
2014, como parte do processo de renovação para a licença ambiental da MRM,
tiveram principalmente a participação do governo, e os pontos de vista dos
residentes locais não foram tomados em consideração. “Representantes das
comunidades vizinhas não participaram nesta reunião e portanto as suas questões
e preocupações não foram incluídas no processo de “Avaliação do Impacto
Ambiental” conclui-o a SRK em seu relatório.
Com a
chegada das Forcas de Protecção de Recursos Naturais e Ambientais no ano
passado sob tutela do Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural em substituição,
nada foi feito quanto a crescente violência. O Procurador-Geral de Montepuez
disse que o número de mortes de mineiros aumentou, mas ele não culpa
directamente as novas forças.
“De Janeiro a Março, tivemos algumas mortes
ligadas aos recém-chegados. Quatro casos estão sob investigação, e nós temos
fotografias ilustrando pessoas mortas encontradas na área de mineração.
Testemunhas claramente disseram que pessoas foram mortas e elas não foram
mortas por balas perdidas. Não sabemos quem eram os atiradores,” disse Uazamguiua.
Nem Celso
Correia, Ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, que tem esta Forca
sob sua responsabilidade respondeu a questões submetidas via por
correio eletrónico ou por telefone. Muito menos Ministério de Recursos Minerais e Energia não
quis comentar.
Interesses Comuns
Foto militares ou forcas
Claramente que a empresa e o governo têm interesses
comuns, reduzirem a mineração não licenciada e o contrabando de
pedras preciosas na área de Montepuez. Para o Governo, significa proteger as
receitas fiscais e ganhos em moedas estrangeiras; para a empresa, significa a
salvaguarda de potenciais lucros. Este repórter observou que tanto o Governo
como a Forca de Segurança Privada mora e trabalha na propriedade da MRM e na
área de mineração.
Gemfields
esta ciente da sua estreita cooperação com o governo. “As Forças Governamentais
presentes na concessão de um mandato específico remete para salvaguardar o que
é um bem nacional de Moçambique,” disse em escrito respondendo as perguntas
feitas.
“A MRM mantem um diálogo aberto com as
autoridades no interesse de manter a lei,” disse Gemsfields, adicionando que
sobre os termos da sua licença, é obrigado a prestar assistência básica as Forças
Governamentais, incluindo ajuda-los a se acomodarem. Mas disse que a companhia
não tem autoridade sobre eles e que as Forças Governamentais não operam em seu
nome.
“ Essa assistência não significa que as Forças
Governamentais sejam de algum modo dirigidas pela MRM, ou de certa forma
responsável a MRM. Insinuar ou inferir que qualquer assistência logística
fornecida signifique que a MRM dirige as Forças Governamentais é, completamente
falso. Disse a Gemfields
“ A Gemfields não possui nenhuma autoridade
sobre as Forças Governamentais, e não poderá ser responsável pelas suas acções.
Contudo certamente estamos Preocupados com os actos ou alegacão de violência e
com certeza investigamos tal questão. Estamos a trabalhar com uma terceira
parte de investigadores” Enfatizou a empresa.
Gemsfields
disse que condiciona a formação em Direitos Humanos para todos os seus
seguranças, quer da Arkhe assim como da segurança interna da MRM e que no diálogo
envolvendo todos os níveis das autoridades Moçambicanas, focalizou a
importância dos Direitos Humanos. A SRK, em seu relatório recomenda que o
Governo e as Forças Privadas mantenham os padrões de Direitos Humanos.
Recomendam também que nos seus contractos sejam inclusos os “Princípios
Voluntários sobre segurança e Direitos Humanos” – directrizes internacionais
estabelecidas pelo Governo, Empresas e ONG’s para orientar as empresas do sector
extractivo na manutenção da sua segurança e das suas operações respeitando os
Direitos Humanos – o que a Gemsfields disse ser parte do contrato com a Arkhe.
A SRK também propôs que se mantivesse um registro de aplicação dessas
directrizes. Em cinco vistas efectuadas ao local pelo jornalista, este não encontrou
evidências que sustentassem a implementação das recomendações feitas a MRM.
Kunis, a actriz
destacada no vídeo promocional da Gemsfields, não respondeu as nossas
sucessivas perguntas, não comentou sobre o assunto apresentado submetido a seu
representante de relações públicas. Mas em uma entrevista de 2015 com a Daily
Telegraph, Kunis disse que “ para ela era muito importante acreditar na marca.”
Foi por esta razão que em 2013 ela viajou a Zâmbia, para as minas de Esmeraldas
da Gemsfields, para pessoalmente verificar as práticas éticas referenciadas
pela empresa.
No mês de Fevereiro
último, o seu contacto de três anos como embaixadora da marca Gemsfields expirou,
e a empresa infirmou que sua imagem seria retirada da Website da empresa aos
poucos. Contudo, nem a empresa, muito menos a Mila Kunis se dignaram a dizer
quais as razoes por de trás deste processo.
Eustácio
Valoi é um jornalista de investigação Moçambicano. A investigação teve o apoio
do Fundo de Jornalismo Investigativo e publicado por Foreign Policy e
100Reporters.
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