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quinta-feira, 9 de junho de 2016



As Guerras na Pilhagem dos Rubis de Montepuez

Por Estácio Valoi (Moçambique) e Gesbeen Mohammad (Reino Unido)


Como é que os aldeões guerreiam no maldito pacto de exploração mineira da maior reserva de rubis do mundo

Multinacionais do ocidente são frequentemente acusados pela falta de "responsabilidade social e corporativa." Mas uma investigação sobre a mineração de rubi em Moçambique mostra que é difícil culpar apenas um lado quando os governantes do país "parceiro" abusam dos seus próprios cidadãos. Em Montepuez, o maior jazigo de rubis do mundo, um General local apropria-se dos ganhos da exploração das minas de rubi na parceria Moçambique e Reino Unido  enquanto,  garimpeiros artesanais são mortos pelas Forças Especiais locais. Enquanto  a sede da multinacional responde a perguntas e preocupações, o governo moçambicano simplesmente recusa prestar declarações.


Foram criminosos estrangeiros, tanzanianos e somalis, que cuidaram do Antoninho de 18 anos de idade,  filho de Geronimo Potia, quando foi baleado mortalmente pelas forças de segurança do governo que patrulhavam a sua aldeia a proteger  os valiosos recursos de rubi  que oficialmente pertencem a Montepuez Rubi Mining (MRM), empresa que resulta da fusão entre Gemfields sediada no Reino Unido e a Mozambican Mwiriti Limitada, que tem fortes ligações  a figures sonantes do Governo de Moçambique.
Aos olhos da empresa, do governo e dos homens que atiraram nele, Antoninho era um ladrão. A concessionária MRM possui uma licença para exploração de rubis e, por esse motivo, o facto de o jovem estar a escavar rubis na região onde sua família vive a gerações não era relevante. Antoninho tinha sido declarado  criminoso tal como os contrabandistas estrangeiros, que vieram para comprar pedras nele.
Colegas do garimpo disseram que Manuel se arrastou por cerca de cem metros antes de morrer

Deixado a morrer em solo vermelho de Namanhumbir em 19 de abril de 2015, o seu corpo foi levado para casa do seu pai por seus amigos clientes da Tanzânia e da Somália. Os mesmos contrabandistas também angariariam fundos fazendo contribuições para o enterro e para apoiar a família. "Se não fosse por eles, o corpo do meu filho teria sido abandonado lá, não teria tido dinheiro para o enterro", diz Geronimo Potia, sentando desanimado em sua casa de pau- a-pique em Muaja, uma aldeia perto da área de mineração de Namanhumbir.

No mesmo dia que Antoninho morreu a 19 de Abril de 2015, colegas do garimpo vieram dizer a Artur Pacore que as mesmas forças de segurança, a FIR ( Força de Intervenção Rápida, é a sua designação completa: uma secção das forças especiais do exército)  balearam o filho dele, Manuel, no abdômen. "Eles disseram que ele rastejou para fora da mina de rubi e se arrastou por cerca de cem metros. Em seguida, ele morreu. "
Na longínqua Londres, a sede da MRM manifesta preocupação em relação as mortes. Numa resposta demorada um porta-voz diz que a empresa teria tido conhecimento de tais casos se tivessem sido mortos dentro da área concessionada a MRM desde 2012 (1). A MRM promete investigar esses casos minuciosamente.

Benefícios associados

Na introdução à resposta, a empresa diz que perigoso para as pessoas  envolverem, a titulo individual, na extração de pedras preciosas em Montepuez: "garimpeiros  arriscam suas vidas na escavação de pedras preciosas, a mando de intermediários sem escrúpulos (e principalmente estrangeiros) que operam num sistema de contrabando, pagam pouco ou nenhum imposto ao governo moçambicano, e lucram à custa da população local ", MRM diz, acrescentando que" esta exploração  mineira não está regulamentada, é insegura, é exploradora e não é transparente. "Felizmente, a empresa conclui," tais actividades tendem a se dissipar ao longo do tempo, e  os benefícios de métodos formalizados de extracção e seus benefícios associados começam a tomar forma. "

Benefícios ainda não chegaram a Namanhumbir.

Tudo em Namanhumbir é vermelho. O solo, grande parte da vegetação seca, os paus e capim dos quais as pessoas constroem suas cabanas; a madeira, os rubis, a poeira. O assassinato de Antoninho Gerónimo nunca foi comunicado pela polícia, mas nossas fontes da Procuradoria  disseram nos que dezoito pessoas foram agredidas, feridas ou mortalmente baleadas e deixadas  morrer por extrairem as riquezas de suas terras.
Foto tirada em Ntoro-Namucho no caminho para a área de Nkolokoloto Simba. Crédito: Estacio Valoi

A polícia apareceu logo depois que o governo descobriu a riqueza
Os casos são contados a partir de 2009, quando os maiores depósitos de rubi foram descobertos no distrito de Montepuez.  As primeiras mortes não são motivo de preocupação para a MRM, pois a sua licença só foi concedida em fevereiro de 2012, mas para o  governo moçambicano, que lançou a primeira operação policial contra mineiros ilegais em julho de 2009, pouco depois de ter tido conhecimento da riqueza na região. Mas Antoninho e Manuel morreram em 2015, três anos após os “benefícios da extração formalizada” serem suposto  começarem a tomar forma.

O solo e os rubis

Os Potias e os Pacores são apenas duas das mil e quinhentas famílias - um total de cerca de nove mil pessoas cujas vidas mudaram drasticamente com o advento da exploração mineira formal na região. Além de mineração e agricultura não existem quaisquer outras fontes de renda aqui. Por muitos anos (é difícil quantificar, como a exploração mineira era informal), os garimpeiros locais escavaram Camada, areia com rubis, do solo deles; peneiraram e venderam as pedras em bruto para visitantes-comerciantes estrangeiros em visita.

Mas em 2009 as pedras foram descobertos na Tailândia e rastreada até Montepuez.  Agora, várias forças de estilo militar impendem os moradores de acessar os recursos naturais de suas terras. No ano passado, -coincidentemente logo após os assassinatos de Antoninho e Manuel-, a FIR foi substituída Força de Conservação do Recursos Naturais e Ambiente do Estado Moçambicano. Em paralelo a esta Força  opera a Policia de Protecção de Moçambique, que também é acusada de proteger os interesses da MRM, em vez de seus próprios cidadãos. E depois há a segurança privada da MRM, tratada por Nakatanas, "homens de catana" pelos moradores. Oficialmente é uma equipa  constituida por 470 homens da empresa de segurança Arkhe. A maior parte deste seguranças portam apenas bastões, mas alguns deles também andam armados com armas de fogo.

O procurador-chefe do distrito deMontepuez  Pompilio Xavier Wazamguia, diz que ele tem conhecimento de quatro casos finalizados de mortes a tiro e agressões físicas na área de mineração da MRM. Destes, uma verificação revela que três policias moçambicanos da FIR foram condenados; o quarto, um guarda de segurança da Arkhe, foi absolvido por falta de provas. (A sentença judicial diz que a vítima, neste caso, o garimpeiro Carlos Calisto, foi baleado mortalmente, mas a arma utilizada não podia conclusivamente pertencer ao segurança em questão.) Wazamguia diz que a sua instituicao ainda está a reunir evidências, para outros onze casos de alegados  assassinatos de garimperos por forças de segurança.

Ministro do Interior de Moçambique recusa  comentar

O Ministro do Interior de Moçambique, no comando das Forças Especiais do Governo, como a FIR,  recusou prestar declarações. O principal acionista da MRM, o consórcio britânico Gemfields diz que as forças do governo estão no seu território "para defender a lei da terra e para proteger os interesses nacionais do país"; eles não são dirigidos pela MRM;  nenhum funcionário da Arkhe contratada pela MRM  foi alguma vez  condenada  e  "nem a Montepuez Rubi Mining Limitada, ou seus directores, seu pessoal em geral ou contratados seus estiveram envolvidos em intimidação de qualquer que seja ou violência contra membros da comunidade local."

População local em Namanhumbir, no entanto, relatam que eles não podem locomover-se livremente, sob pena de serem agredidos fisicamente ou mesmo assaltados. Num relatório datado de julho de 2015, a Organização Ambiental local AMA lista queixas de aldeões nomeadamente: "Os Nakatanas e as forças de defesa  impedem nos  de movimentarmo nos. Nós não podemos usar a estrada que leva ao posto administrativo (o município, ed.), porque eles confiscam o nosso dinheiro e  bens em nossa posse. Quando vamos cortar lenha ou bambu, eles impendem nos alegando que somos garimpeiros ilegais. Quando ficamos doentes, somos confrontados com o problema de não podermos usar a estrada para a clínica. "(2). Num comentário, um porta-voz da MRM recusa que os 'Nakatanas' tenham algum laço com a empresa.

Ovos  Fabergé.

Exploração mineira formal deveria desenvolver Namanhumbir. Em 2011, a Gemfields - consórcio britânica, líder mundial em pedras preciosas que detém os direitos sobre a marca comercial dos famosos ovos  Fabergé, em parceria com identidades poderosas  na arena política mocambicana, pertencentes ao Partido Frelimo que governa o país dsede a proclamacao da Independencia em 1975, formaram a concessionária  MRM – Empresa Moçambicana de Exploração Mineira de Rubis. Samora Machel Junior, filho do primeiro Presidente de Moçambique, é o Presidente do Conselho de administração da MRM. Raime Pachinuapa, filho de Raimundo Pachinuapa, um general na reserva e figura de proa da Frelimo, o Director Executivo da MRM.

Em fevereiro de 2012, a MRM adquiriu uma licença exclusiva de mineração e exploração de 25 anos sobre a área concessionária concedida pelo governo. Desde então, as operações da MRM renderam a accionista Gemfields setenta e cinco porcento correspondendo mais de US $ 122 milhões em receita exclusivamente em leilões; uma média de US $ 40 milhões por ano. E um média de mais de US $ 10 milhões por ano para o parceiro moçambicano.

Ambos os parceiros na operação de exploração mineira prometeram aos aldeões de Namanhumbir que a mineração traria ganhos para eles. Os representantes da MRM tiveram uma reunião com as populações das aldeias na região de Namanhumbir -M'pene, Nseue, Ntoro e Nanune-  onde eles explicaram  as povoações que a Gemfields iria gerar um programa de Responsabilidade Social Corporativa (CSR, sigla em inglés), cujo incluiria um centro de saúde, instalações desportivas, uma escola, um mercado rural e dois poços de água. Como também a criação de empregos formais. O mais importante para os garimpeiros locais, o parceiro moçambicano prometeu que eles iriam obter áreas de concessão para continuarem as suas actividades de exploração mineira. Eles deviam criar associações que iriam negociar suas pedras com a MRM e por esse meio,  gerar melhores receitas.Mas não foi o que aconteceu.

Os contrabandistas e as mulheres

O problema, em primeiro lugar, era que ninguém parecia saber o que fazer com os negociantes estrangeiros e contrabandistas. Durante anos eles compraram rubis extraídos pelos aldeões. Mas o comércio era informal e acto criminal, agora que alguém detém licença. O número de contrabandistas catalizou se apartir do momento que a notícia da existência abudante dos valiosos saiu para o mundo. Os compradores estrangeiros são agora aos vindos da Somália, Tanzânia, Congo, Tailândia, Zimbábue, Uganda e África Ocidental. Com a chegada destes estrangeiros atrelou-se uma indústria de profissionais do sexo.

"Mulheres de Senegal, Malawi, Tanzânia,” descreve o Administrador Distrital Arcanjo Cassia, que está preocupado com a situação nas implicações para a saúde. Ele afirma que também afecta as mulheres locais. Raparigas abandonam a escola para fazer um dinheirinho rápido no trabalho sexual. "Uma rapariga vai preferir ir com um homem que a promete um telefone celular do que ir para a escola. Existe agora um aumento do HIV - Sida na região. Mas temos dado palestras sobre prevenção de doenças. "Cassia reconhece que é o que pode oferecer.
"Nós não recebemos nada. Nada!"

O centro de saúde que foi prometido pela empresa até agora não se materializou. Nem os poços de água, o mercado, as instalações desportivas ou a escola. Quando questionado sobre isso, Cassia abana a cabeça e lamenta "Nós não recebemos nada. Nada! No seu relatório anual, a britânica Gemfields accionista maioritário da MRM diz que construiram um mercado e uma escola, mas de acordo com Cassia, o que a empresa fez foi pintar um edifício antigo que já existia desde a época colonial portuguesa".  "Em resposta as perguntas, MRM insiste que realmente" reabilitaram "a escola.
Sala de aula pintada por MRM. Escola construída durante o regime colonial português.
Foto tirada no centro de Toro-Mucho. Crédito: Estacio Valoi
Tenda Clinica construída por MRM. Foto tirada no centro de Toro-Mucho. Crédito: Estacio Valoi

MRM acrescenta ainda, que todos os projectos continuam a fazer parte do programa, mas que "a maioria das empresas neste estágio da fase de avaliação de recursos prefere aguardar a conclusão dos seus planos de mineração em grande escala antes de iniciar qualquer um desses programas." A empresa, contudo, mantém a responsabilidade social como sua "prioridade fundamental" e que o programa vai "florir proporcionalmente com as suas operações (3)."

Queima de casas

Oficialmente, a MRM está ainda em guerra com infractores estrangeiros. "Trabalhamos em coordenção com o governo moçambicano visando o combate de entrada ilegal de cidadãos estrangeiros nas fronteiras moçambicanas, cidadãos esses que vêm a procura do lucro nas minas de Montepuez ", declarações de Ian Harebottle,  Director Executivo da britânica Gemfields  em dezembro de 2014. Anastasia Clemente Administradora de Namanhumbir, tinha proferido a mesma coisa numa entrevista publicada  em um site do notícias de Moçambique em 2012: "os estrangeiros estão a explorar- nos  e a promover problemas entre nós, esses estrangeiros estão por trás de toda esta convulsão social na região." 

"Infractores estrangeiros estão por trás de toda esta convulsão social na região"

As populações, no entanto, também ,são criminalizadas. As licenças de áreas de concessão para exploração mineira artesanal prometidas as populações nunca se materializaram. Na mesma entrevista, 2012, Anastasia Clemente afirmou que infelizmente este acto nao se desenvolveu por culpa própria, dado que “lamentávelmente os garimpeiros nunca formaram associações." Mas a MRM, reagindo ao nosso questionamento, disse que essa promessa não foi feita pela empresa, porque "A lei vigente moçambicana proíbe a negociação de rubis por qualquer outra parte que não seja por cidadãos moçambicanos ", o que significa quea  MRM, empresa  pretencente maioritariamente a estrangeiros, não podia de qualquer forma comprar as pedras (4).
"Sempre que eles tomam conhecimento de uma nova zona com rubis, expulsam-nos dela"

As populações também acusam a empresa de remoções forçadas. Em Namucho em 15 de setembro de 2014, vários aldeões relataram a queimada de casas e campos e agressões fisicas as populações. Um homem local em Namucho diz que perdeu cerca de dois hectares de terra. "Eles fazem as escavaçoes, descobrem os rubis, depois, a empresa apareçe e declara a área como propriedade  deles." Outro aldeão, em Ntoro: "A empresa queima nossas casas e apropria-se dos nossos terrenos. Somos baleados e agredidos fisicamente. Sempre que eles tomam conhecimento de uma nova zona com rubis, expulsam-nos dela “As Populaçoes nas áreas devastadas alteraram agora a imagem de Namanhumbir de  'El Dorado', parafraseando-o para 'El Dobrado':. O" lugar que entrou em colapso ".

Uma albufeira rica em peixe

Mais uma vez, MRM e a Gemfields accionista maioritário refuta ter conhecimento e envolvimento em tais práticas. Geralmente culpam "pessoas não autorizadas (...)no garimpo de rubis", que entram na área concessionária da MRM e estabelecem "acampamentos informais e não autorizadas." Ele acrescenta que "a MRM não dirige ou determina o processo de remoção de tais acampamentos (na área de concessão) ", e explica que a" polícia pode ser solicitada" para o efeito “quando devidamente notificada. "A empresa tomou conhecimento do incidente de 2014 'na periferia da aldeia Ntoro", onde ocorreu uma disputa entre aldeões e garimpeiros ilegais (estrangeiros), durante a luta um dos grupos abriu fogo contra uma série de estruturas ". (5)

Porém, quatro aldeias de facto, Namucho, Ntoro, Nseue e M'pene, estão localizados dentro da área concessionaria da MRM. Três delas, Segundo o relatório produzido pela SRK Consulting para Gemfields em janeiro de 2015 (6), devem ser reassentadas: no relatório, a SRK recomenda um "Plano de Acção de Reassentamento (RAP, sigla em Inglês) para transferir as populaçoes locais que residem dentro ou perto da área de concessão. "O relatório não diz para onde as populações seriam transferidas, porém as populaces tem conhecimento do  "modelo de casas" (7) a serem construídas para eles na distante região de Nanune.

Impacto criado pela resistência das comunidades

A organização ambientalista AMA (abreviatura de "amigos do Ambiente “  estima que esse plano afecta 440 famílias, num total de cerca de 2000 pessoas. Eles ja devieriam  ter sido transferidas  mas muitos  recusam – se a ir. "A terra é seca e o que acontecerá com as árvores de fruta que temos onde vivemos agora?" AMA tem registado algumas das objecções. Quando entrevistados pessoalmente, os aldeões de Nseue dizem estar  determinados a permanecerem nas suas zonas de origem. "Nós não vamos sair desta terra", diz um aldeão. "Nascemos aqui e como também os nossos antepassados. Esta é a nossa riqueza. "Nseue é um lugar agradável, perto de uma albufeira rica em peixe. Em Nanune não há nada, nem mesmo água.

Notavelmente, a resistência das comunidades está a ter impacto nas operações. No final de 2015, a Gemfields accionista maioritário diz que "qualquer reassentamento futuro, provavelmente, só envolverá a aldeia de (8) Ntoro."

Máquinas do perigo

Enquanto isso, muitos garimpeiros ainda se recusam a sair de áreas reivindicadas pela MRM. Permanecendo nessas áreas, eles enfrentam outros perigos para além dos homens armados. Os aldeões dizem que as escavadoras da MRM movimentam-se sem importar com a presença ou não de seres humanos ao seu redor. Um garimpeiro chamado Abdul perdeu seu primo dessa forma. "Ele estava trabalhando com dois outros em um buraco profundo de três metros. Eles já tinham recolhido um saco de Camada - areia que continha rubis. Eles estavam a cerca de cem metros de distância de nós, ainda a trabalhar quando eu e outros regressamos para casa. Na altura em que as máquinas vinham, nós escondemo nos. Depois de um tempo quando espreitamos para ve- los, reparamos que as máquinas estavam a tapando o buraco em cima deles ".
"As máquinas estavam tapando o buraco em cima deles"

MRM diz que o primo de Abdul pode ser um dos garimpeiros morto pelo desabamento de terra das suas próprias escavações pelo uso de "métodos inadequados de mineração." "Porque os garimpeiros não querem que suas escavações sejam tapadas, qualquer soterramento de um garimpeiro por sua própria escavação é rapidamente atribuída a MRM na esperança de quea MRM interrompa o processo de fechar as escavações ilegais ", diz um porta-voz do MRM.

Pompilo Xavier Wazamguia  procurador-chefe do distrito de Montepuez reconhece que as comunidades estão forçosamente sendo realocados e que os garimpeiros foram expulsos de suas terras. "Agora há aqueles que não têm terrenos, não têm casas e não têm rendimentos", diz ele. Com desânimo similar, Arcanjo Cassia administrador reconhece que há muitas mortes na área. "Nós criamos uma comissão de trabalho", diz ele. "a comissão de trabalho já esteve nos locais de mineração e está trabalhando com as forças de segurança no terreno."
O lugar selvagem

Enquanto isso, centenas de garimpeiros estão com muito medo de continuar a trabalhar na area da concessionária da MRM. Eles agora estão a extrair Granada, uma pedra com muito menos valor em Nkata, uma zona a trinta minutos de distância.

Para chegar lá, aluga-se moto "táxi", e anda-se por um capim alto á dentro e, com pouca visibilidade por causa da poeira.  As buzinas sao o unico meio para evitar colisões frontais com uma outra moto-taxi vinda em sentido contrario. Mais uma vez, a presenca  das autoridades pagas pelo Estado moçambicano estão aqui para tornar a vida das populacoes mais difícil e nao o contrario. Em vez de orientar o tráfego e proporcionar segurança, a Polícia de Conservação Ambiental/Guarda Florestral criou um posto de controlo, exigindo US $ 2 por pessoa pela passagem.

Ao chegar em Nkata ao entardecer depara-se com centenas de homens cobertos de poeira vermelha, carregando picaretas, retornando da jornada de trabalho das minas de  granada. Muitos agupam-se para beber Tentação, um whisque barato (tipo fabrico caseiro), enquanto as mulheres em bancas que estao por todo sitio cozinham arroz, chima e peixe em panelas enormes. Ouve -se música alta por todos os lados. Esta área se estende por mais de 150 metros quadrados, com buracos/minas com profundidades entre três e quatorze metros espalhadas por todo lado.
Foto tirada no centro de Toro-Mucho. Crédito: Estacio Valoi

Um trabalhador chamado Issufo está aqui há mais de três meses. "Mas eu não encontrei  o suficiente para fazer algum dinheiro", diz ele. "Eu tenho cinco filhos e nada para levar para casa para eles." Ele não quer voltar para Nkoloto, de onde ele vem. "Eu estava escavando rubis dentro de um buraco quando a FIR chegou. Disseram-me para sair. Quando saí do buraco, um deles atirou em mim. Na perna." A ferida de bala curou. Isso aconteceu em julho de 2014, mas o buraco é ainda visível na perna direita: dos dois lados, onde a bala entrou e onde ela saiu de novo. A MRM tem um incidente semelhante em seus arquivos "A empresa presume que a  FIR ao dispersar um grupo de garimpeiros, um garimpeiro.. foi baleado na perna ".

A questão permanence: como Issufo e os outros moradores de Montepuez nunca vai ganhar a vida novamente. MRM disse que 800 empregos foram criados em uma área onde antigamente "não havia nenhum ', mas de todos os moradores entrevistados, nenhum deles nos disse que eles foram formalmente empregado. Também não há registoo de qualquer anúncio de postos de trabalho em qualquer um dos meios de comunicação locais ou escritórios administrativos. Houve, no entanto,  queixas na vila Nseue  de que chefe local Horacio Terêncio está fazendo um bom dinheiro com a venda de mão de obra barata dos habitantes locais para a empresa.

O lider comunitario e um agente de emprego

Em uma recente reunião da comunidade em Nseue, Terêncio foi com raiva confrontado por aldeões: como ele poderia agir como um intermediario barato, embolsando uma boa comissão cada vez, ao invés de defender os interesses da comunidade? Essa reunião terminou com Terencio a saltar para sua moto e rapidamente deixar a área. Mas ele voltou no dia seguinte para continuar com as suas negociatas.

A Lei e o general

Formalmente,  há lei e ordem em Moçambique. Desde 2014, uma nova lei de mineração (no. 20/2014) visa salvaguardar os interesses nacionais através de disposições fiscais e prescreve que os benefícios da mineração deve ser alargado às comunidades. Ele também prescreve uma compensação justa nos casos em que os cidadãos têm de ser reassentados, e permite a direitos de mineração para os indivíduos. Mas até agora, a lei  nao tem forca:  os direitos de mineração ainda sao  para aqueles que já são ricos e têm o capital para iniciar uma operação de mineração maciça. Não estabelece que percentagem dos lucros deve ser destinado para o desenvolvimento da comunidade e não aborda os direitos dos cidadãos que vivam nas terras atingidas pelos  projectos de mineracao.

Uma questão ainda mais fundamental é como essa lei vai ser implementada se as leis  e os acordos existentes sao sistematicamente violados em Montepuez? Assassinatos, espancamentos e fogo posto foram sempre ilegais; ainda o administrador, o chefe do posto e a cabeça procurador-chefe do distrito - para citar apenas alguns- parecem impotentes para detê-los. Da mesma forma, os relatórios são abundantes de policias e outras autoridades coniventes com as redes de compra clandestina e facilitando o roubo e contrabando (9). Busca de justiça, lei e ordem em Montepuez durante o último ano e meio, estes parecem em grande parte inexistentes.

O  General

Um tempo depois de Estacio Valoi ter saído de Montepuez,  num  bar em Pemba,  subitamente  um homem  agitando o seu copo de whisque senta se ao lado dele.i. Estacio reconhece o vagamente como um advogado da praça. O homem tem uma mensagem para ele, diz ele. "As pessoas têm perguntado sobre você na área de mineração." Uma dessas pessoas parece ser membro do conselho de administraçao da MRM, o próprio General Raimundo Pachinuapa. "O General", forma como e  tratado no meio do garimpo. Ele conta ao Estacio sobre as pessoas que trabalham para o 'General'. "Eles fazem rios de dinheiro. O General gosta de espalhar sua riqueza pelas pessoas ao seu redor. Ele nem se importa se a empresa está a ter um bom desempenho ou não. Há bastante dinheiro para todos aqueles que são amigos do General. "Estacio opta por não contar a ele que não é amigo do General.

Perguntas ao ministro de Moçambique Pedro Couto (Meio Ambiente) e Ministro Celso Correia (Geologia e Minas) ainda nao foram respondidas até à data.

ACTUALIZAÇAO: Esta história foi actualizada da versão original baseada numa série de imprecisões factuais que foram levantadas conosco pela Gemfields, accionista maioritário da MRMs. Nomeadamente:

No primeiro parágrafo a frase original "perto da aldeia onde sua família viveu por gerações" foi alterado para "na região onde sua família viveu por gerações." (Isto é significativo porque Gemfields seria directamente responsável se o assassinato tivesse ocorrido dentro de sua área de concessão. Embora os pais de ambos Antoninho e Artur afirmam que os seus filhos foram mortos dentro da área de concessão, MRM e Gemfields disputam isso.)

A citação do pai de Antoninho assassinado, Geronimo Potia, na história original 'a empresa não socorreu. A polícia não socorreu. Apenas os estrangeiros socorreram 'foi removido porque a família não relatou o assassinato para a empresa. Gemfields salientou que a empresa não poderia ajudar se não foi solicitada. Isso é tecnicamente correcto. (No entanto, ZAM apresentou à empresa o relato das populacoes relativamente ao terror que elas tem dela e nao terem a devida coragem a solicita la para abordá-la por qualquer motivo que seja.)

A nova versão alterada da história também não carrega a afirmação original que aldeoes foram assassinados por se recusarem a desocupar suas terras. Embora existam numerosos relatos de espancamentos e queimada de casas como conseqüência de tal recusa, relatos de mortes só são ligadas à mineração ilegal.

O ano que MRM adquiriu a sua licença de exploração mineira ruby foi erroneamente relatado em 2011 na versão anterior. Esta deve ser, como se lê agora, Fevereiro de 2012.

A versão anterior da história omitia uma refutação pela Gemfields na qual a empresa esteja em conexão com os homens de segurança privada conhecida como 'Nakatanas.' A refutação foi incluída.

O número de seguranças particulares que são formalmente contratada para MRM foi erroneamente relatado como 4750. Isso foi corrigido para 470.

A versão anterior erradamente afirmava que Gemfields 'detém o monopólio sobre os famosos ovos Fabergé. Isso foi corrigido para se ler "detém a marca comercial" dos ovos.

ISTO APENAS EM: Fomos informados pela Gemfields que o guarda de segurança Arkhé que foi levado a tribunal por "homicídio permiditado" foi absolvido porque as provas ligando o seguraça a arma do crime foi inconclusiva. Uma versão anterior da história erradamente incluía este caso nos quatro casos de condenações por assassinatos. Pedimos desculpas a Gemfields pelo erro. Também: dos dezoito casos criminais que foram processados ou estão sendo processados, por tribunais da região, nove e nem todos são por homicídio. O resto são por agressão e ferimentos por tiro. Mais uma vez, as nossas sinceras desculpas.


Foto da capa: A imagem foi tomada dentro da área do seu principal acampamento dos Maningue agradável do MRM-Gemfields '.
Apontamentos

(1) MRM surgiu em 2011 e assumiu a responsabilidade sobre sua área de concessão de mineração em 2012
(2) A partir de relatório de pesquisa AMA (em Português):https://www.documentcloud.org/documents/2748165-AMA-Research-Report-on-the-Namanhumbir-Area.html
(3) Ver resposta MRM aqui: https://www.documentcloud.org/documents/2748159-MRM-Gemfields-Response-to-Questions.html
(4)    Notavelmente, a MRM manifesta interesse em um "diálogo" com o governo sobre a questão de uma permissão para comprar rubis de garimpeiros, dizendo que "a capacidade de MRM a participar em tais actividades comerciais poderia oferecer um valor nacional considerável." Ele também nos informa em sua resposta às questões que o governo moçambicano tem reservadas duas áreas para a exploração artesanal ", que são relatados de terem produzido volumes consideráveis de rubis." Nossa equipa, contudo, não se deparou com tais áreas, e nem qualquer um dos aldeoes entrevistados por  um período de mais de um ano deparou se com tais areas. Quem esta  por de tras dessa  mineração com volumes consideráveis 'e onde? Temos a intenção de dar seguimento a este assunto.
(5)    Idem https://www.documentcloud.org/documents/2748159-MRM-Gemfields-Response-to-Questions.html
(6)    Ver SRK Report here https://www.documentcloud.org/documents/2752153-SRK-Report-on-Montepuez-Ruby-Mining.html
(7)    AMA research report https://www.documentcloud.org/documents/2748165-AMA-Research-Report-on-the-Namanhumbir-Area.html
(8)    MRM response https://www.documentcloud.org/documents/2748159-MRM-Gemfields-Response-to-Questions.html
(9) Ver, por exemplo, este estudo sobre funcionários do Estado ea participação do partido no poder no comércio ilegal e contrabando http://cic.nyu.edu/sites/default/files/kavanagh_crime_developing_countries_mozambique_study.pdf

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