quarta-feira, 6 de abril de 2011
' Cheias' em retrospectiva
"Cheias" e as estorias de sempre na Zambézia
Estacios Valoi
07/04/11
Devido ao fenómeno com efeito de ‘El Nina’, que significa muita água em que aquece e chove subdividido em três vertentes como o anticiclónico, de baixas pressões e o de frentes frias que este ano vem incidindo sobre o Pais que causou cheias nas zona sul e pelo centro algumas enchentes que puseram em risco cerca de 20 mil pessoas divididas pelas 10 províncias de Moçambique
Na altura o director do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades João Ribeiro disse que o Fenómeno ‘El Nina’ deu azo ao alerta vermelho e que indubitavelmente todas as instituições inseridas na gestão de risco, desde do governo, parceiros tinham que estar atentos ao desenrolar destes fenómenos.
“O alerta vermelho institucional significa que todas as instituições do governo e parceiros que trabalham connosco na gestão de risco tem que estar mais atentos no desenvolvimento dos fenómenos. Porque estamos com o efeito ‘ El Nina’, um fenómeno que em resumo quer dizer muita água. Como pode ser água do sistema ou do outro sistema.
Este ano Moçambique esteve rodeado de três fenómenos, o Intercontinental, aquelas chuvas do centro do hemisfério para o Sul, próprio do efeito ‘El Nina’, portanto aquece e chove, o anticiclónico baixas pressões, o terceiro ‘e das frentes frias. Quando as frentes frias do hemisfério vem, em centras-te das temperaturas pode criar ventos fortes ciclones e geadas.
Houve momentos em que os tês fenómenos estavam concentrados no centro e sul e isso deu muita precipitação o que fez com que não só em Moçambique mas também nos países vizinhos que são os que mais contribuem com água para a jusante e tivemos inundações no rio Maputo Incomati e no Limpopo.
Relativamente ao plano de mitigação que geralmente a prior deve ser implementado antes que se alcance a fase de resposta por conseguinte a ultima depois do alerta laranja Ribeiro arredondou simplificando o plano de acção da sua instituição. Contudo não fez menção a aspectos como a retirada dos camponeses das zonas baixas para as altas como no caso do Distrito de Chinde carregado de um vasto coqueiral pertencente a Madal sem uso a décadas, introdução de culturas como a batata-doce e outras. Mas frisar que as terras da Madal são assunto do governo de Itae Meque.
“Temos o plano de prevenção que é feito de Abril a Outubro que são as capacitações junto dos comités, dos governos locais e da sociedade civil em si para saberem como agir quando estamos num sistema de alerta. Ex: no Limpopo 30.000 pessoas ficaram afectadas mas só houve necessidade de resgate de 250 pessoas “.
Na zona centro vai haver um abrandamento de chuvas e isto vai possibilitar que a barragem de Cahora Bassa possa reduzir a quantidade de água que vem mas contudo era preciso estarem atentos porque um desastre leva por ai 20 minutos e este alerta vermelho é exactamente para isso. Evitar surpresas. Os maiores desastres são nos primeiros 20 minutos e para uma pessoa que esta a ficar afogada ou surpreendida bastam cinco minutos. É uns exemplos que vemos pelo Brasil”.
Ainda de acordo com Ribeiro os cenários encontrados este ano estavam muito abaixo relativamente aos anos anteriores com o distrito de Chinde ainda hoje com apenas cinco linhas de telefone fixo, quatro na administração, sete rádios transmissores nas zonas mais recônditas mas mesmo assim naquele local não existe comunicação entre a sede e os locais recônditos porque o secretário permanente e o rádio transmissor não fazia uso daquele instrumento.
“ Os cenários que encontramos estão muito abaixo dos acontecimentos que tivemos e temos 20 mil pessoas em risco. Não queremos óbito de ninguém. Por isso é que temos que agir, nem que seja uma pessoa precisamos de agir e os rios neste momento estão a subir e só vamos ficar sossegados quando a agua não transbordar, que esteja no seu leito normal.
Entre o CENOE e o COE Penso que não há uma falta de comunicação. O que pode estar a surgir ‘e que houve uma avaria na rádio de Chinde e a curto espaço de tempo vamos mandar um técnico para fazer a reparação. Mas não é só Chinde, temos comunicação com toda a bacia, também temos fontes alternativas de comunicação e isto ‘e um problema pontual que vai ser resolvido dentro de um curto espaço de tempo. Há celulares. Disse Ribeiro
Os primeiros socorridos das cheias na Zambézia
Por mais caricato que pareça ou ironia do destino e, apesar do próprio INGC ter alertado sobre as zonas de risco, inundadas ou interrompidas devido a subida das águas, o delegado provincial João Zamissa e a do Distrito do Chinde do INCG, foram os primeiros a serem socorridos na localidade de Chissamba entre o distrito de Mopeia e Luabo, sem barco e muito menos combustível, isto não fosse o único barco pertencente a uma ONG’s que opera naquela região.
Segundo as nossas fontes na altura, a questão territorial teve muito peso porque os dois barcos que se encontravam no porto fluvial de Marromeu com os militares da UNAPROC informados na altura sobre a situação dos delegados do INGC não se fizeram ao local. Mais ainda é que o próprio director regional que chegou a aquele porto numa Toyota Hilux branca com um barco atrelado com destino a Chinde para se encontrar com Zamissa e Francelina pôs se a fresco.
Apesar destas peripécias, quanto a nossa reportagem questionou ao director Nacional o INCG João Ribeiro sobre as vias de acesso e transporte, que aparentemente não estava a par da situação disse.
“O delegado foi fazer a monitoria daquela região por emergência. Homens que lidam com a emergência têm que ter a capacidade de arrumar esse caos sem criar óbitos, estar minimamente em condições para tal. ‘E um processo e emergência é exactamente isto. Eu já fiquei varias vezes e, ficar significa que nós que lidamos com a emergência temos que ter as nossas condições de segurança da nossa vida e dos outros.
Dos 27 milhões de meticais alocados e descentralizadas ao nível das províncias, a Zambézia teve o bolo de 2.400 milhões algo que comparativamente aos dados apresentados a nível nacional ‘Plano Mãe contrasta com o plano elaborado na Zambézia mas que o dinheiro segundo Ribeiro era suficiente.
“Penso que é suficiente. Mas também é preciso saber que temos parceiros que estão em Moçambique para a gestão de risco. Há uma contribuição do governo e também dos parceiros. Até agora o dinheiro é suficiente.
Negocio das cheias
Ausência total do programa de gestão de riscos nos vários sectores, como a educação, saúde e outros no pais com um mínimo de 10% do orçamento o que seria gerido pelo INGC antes que se atinja os estágios que se verificam anualmente. Alerta vermelho faz com que o INCG esteja apenas virada para resposta e não mitigação, prevenção de risco.
Enquanto o plano mãe nacional operacional elaborado e reajustado pelo Conselho Técnico de Gestão de Calamidades em Maputo a 7 de Fevereiro de 2011, ilustra o Distrito de Chinde com maior população em risco na Zambézia, e diz o seguinte:
‘População em risco - 5,610 para o primeiro cenário, para o segundo - 10350 com o orçamento de 2.400 milhões de meticais alocados no local’.
Já no plano elaborado pelo INGC na província da Zambézia ilustra o contrario e versa o seguinte:
‘O Plano de Acção em alusão toma como grupo alvo de 28.250 pessoas em risco extremo de cheias, correspondente a 48.42% de um cenário máximo de 58.340 pessoas previstos no Plano de Contingência do Governo Provincial da Zambézia para Época Chuvosa e Ciclónica 2010/2011, sendo: Distrito de Chinde 17.250 pessoas; Distrito de Mopeia 8.000 pessoas; e Distrito de Morrumbala 3.000 pessoas.
Neste campo, a multiplicação é a modalidade que mais se aplica. Então vejamos:
17.250* 160 Meticais que é o valor por kit de produtos que são atribuídos a cada pessoa desalojada e/ou vitima das cheias cujo valor total é igual a 2.760.000 de meticais
A questão que se coloca recai em como é que esses planos são elaborados e, apesar de Ribeiro ter enfatizado que o valor monetário era suficiente, segundo fontes o INGC na Zambézia ainda estava a tentar angariar mais fundos para atingir os quatro ou cinco milhões de meticais. Mais ainda ‘e que sempre que se vive o cenário das cheias e também por falta de um plano sustentável de Mitigação.
Durante a escalada pelos maiores centros de reacentamento das vitimas de cheias eis o que constatamos.
Centro de Matilde em Chinde
Segundo o Chefe da localidade de Matilde Alberto Bana.
“Estamos a espera de receber água a qualquer momento. Estamos a mobilizar as pessoas, os comités de risco estão no terreno para ver se podem deixar sair as pessoas com antecedência antes que aconteça o maior perigo.
No centro de momento temos 813 famílias correspondente a 4.375 pessoas que estão a viver aqui mas ainda temos talhões não ocupados num total de 260 para Matilde sede e 546 para Cassaira.
Ate ao presente momento deste ano não recebemos ninguém devido ao alerta vermelho vindos das zonas propensas a maior risco que são: Ndade, Cuyamae, Sambone, Ncuide, Riche, Somare, Chacuma 1 e Massenguza. Aqui em Chinde quando nós vamos falar com as pessoas nas zonas de risco, os camponeses dizem que tem cultura, suas galinhas, seus haveres aí, mas a nossa intenção, a nossa missão é o salvamento das pessoas.
Termos alguns abrigos para vítimas das cheias, talhões, talvez vamos pedir ao PMA uma tenda aqui de armazém e com as estruturas do distrito vamos poder estudar como receber as pessoas quando cá aparecerem na primeira hora. Temos igrejas e escolas. Mas se nos conseguirmos por as pessoas nas escolas obriga a paralisação das aulas e também é perigoso. As escolas estão lotadas”.
Agua e saneamento, alimentação
“Temos muita falta de água. Mesmo com o número que nos temos aqui de 813 famílias têm tido muitos problemas temos 7 poços mais de entre esses 4 já estão avariados e dois furos., mas o mais preocupante aqui no centro é tratamento de água, é necessário tanques e cloro para evitar doenças diarreicas.
As pessoas trazem consigo algumas coisas da sua produção, mas uma vez que a água vai engolir tudo futuramente vamos ter problemas de alimentação. Dentro de dias isso vai se verificar. O que as pessoas vão trazer, trazem na mão, no pescoço, uma alimentação que não poderá durar mais de vinte dias.
De facto onde há pessoas que não comem tem havido malnutrição e periga a situação das pessoas. De momento não porque tem qualquer coisa mas com o andar do tempo podemos ter doenças por causa da alimentação e esta também pode ser uma das causas que faz com que as populações não saiam dessas zonas porque vão deixar suas galinhas, arroz. Galinha leva na mão mas o arroz que esta na machamba deixa e a sua vida já esta complicada”.
“Temos problemas quando o sol esta carregado. Por varias vezes quando as cheias terminam o terreno fica húmido nós vamos plantar alguma coisa e já da. Mas quando ‘e seca então ‘e que há o mal total. Onde há perigo também existem algumas coisas aceitáveis. Nós tínhamos para este ano muita cultura, mandioca e tudo isso vai acabar por causa de cheias e estamos a pedir a Deus para que na segunda época ainda caia chuva para podermos nos assegurar em termos de alimentação
Em termos de quantidade é maior mas é preciso que os homens da agricultura nos ofereçam dados para dizermos coisa concreta porque ‘nos sabemos que cada família tem 21 78.000 habitantes cada família temos uma meia de meio hectare e então se formos a ver isso, então são muitos hectares que se vão fazer”.
Por sua vez o chefe do centro de Michichine no mesmo distrito também pautou pela mesma linha.
“O centro de capacidade para quinhentas pessoas, tem problemas de água e este ano ainda não recebemos vítimas das cheias.
Camponeses
Ainda segundo alguns camponeses entrevistados pela nossa reportagem disseram:
“As vezes somos levados a centro de reacentamento com promessas de termos comida mas as vezes passamos dias sem comida, quando saímos das nossas zonas esses que são dos comités locais de gestão de risco e calamidades (CLGRC) aqui vem roubar nossas machambas porque eles não recebem, condições não são favoráveis. Então ‘e preferível nos ficar aqui e controlar as nossas machambas em Chacuma.
Chefe não é possível e fazem nos mobilização de estarmos lá e as condições e tratamento não ‘e adequado, a gente sai daqui para lá e sem saber porque ‘e que estamos a ficar ‘lá. As nossas machambas ficam estragadas. Há uma rivalidade entre nós que vamos lá por causa da emergência e as pessoas que já vivem lá. Por isso nós não estamos preparados para ir para os centros de reacentamento que o governo esta nos impor. Ate agora aqui não há cheias, só acontece mares, os mares entram e desaparecem, mesmo nos momentos que não são das cheias, isto acontece normalmente. Cheias ainda não vimos. “
Camponês 2
Sou um camponês que desde da muito produzo aqui na minha zona, crio galinhas, mas 2007 disseram para sairmos para o centro de reacentamento. Saímos, ficamos algum tempo e devíamos voltar para colher o nosso produto. Mal voltássemos para a zona de risco ficavam a fazer triagem e tiravam nossos nomes das listas e os produtos que vinham para sermos dado não recebíamos, quem recebia eram aqueles naturais lá do centro e nos que vínhamos das zonas de risco não tínhamos benefícios.
Aqueles terrenos que nos ocupamos lá no centro de reacentamento, são terrenos dos donos e quando vem um produto, lá tem o nosso nome, mas é tirado e, é posto o nome do dono do terreno e nós não podemos ficar sem comida e sem ir para zonas baixas.
Triagens que fazem todas as semanas as vezes deixam nos sair e ficam a fazer, tiram os nossos nomes da lista, mas é uma triagem que eles planificam para ficar a meter o nome dos familiares, meter aquelas pessoas que eles conhecem e nós ficamos sem nada, as pessoas que fazem a triagem são as próprias dos CLGRC. Na zona onde eu vivo não há cheias e nunca houve cheias, nem aquela de 2001, as de 2007 pelo contrário aumentaram a produção.
Nós somos conscientes, sabemos o que estamos a fazer e não é possível ver água dentro da minha casa sem fugir. Conseguimos controlar as cheias, pelo contrario as aguas quando vem transbordam um pouco e as culturas desenvolvem mais. As nossas zonas estão ao lado do rio Zambeze e o que nos ajuda para não inundar ‘e o oceano, porque quando abrem as comportas a agua vai ate aos oceanos. Aqui as por vezes sofremos das águas de marés e não das comportas porque é escoada para o oceano.
Factores que influencia para a permanência das pessoas nas zonas consideradas de risco
O INGC impôs um padrão de construção de uma casa tipo 2,3 de alvenaria as vitimas das cheias cujo material é comprado pelo próprio INGC, algo que também da azo para que muitas das casas não sejam concluídas porque faltam material de construção. Conflito de terrenos nos bairros de reacentamento, fertilidade dos solos nas zonas consideradas de risco, nas zonas altas o governo deve criar sistemas de irrigação, consistência de informação da previsão dos desastres’ Lança se o alerta vermelho e nada acontece’. Distancia entre a zona designada de risco onde a Machamba esta localizada e o bairro. Resgate compulsivo por parte dos militares navais UNAPROC que é feita de 'Chamboco' na mão e uma AK-47 nas costas, algo que aconteceu nas cheias de 2008/9.
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