terça-feira, 25 de junho de 2013
Missão económica holandesa de visita a Moçambique na corrida pelo gás
Estacios Valoi
22/06/13
Representantes de 23 empresas holandesas estiveram, na semana passada, nas províncias de Maputo, Nacala e Cabo Delgado à procura de novos espaços de investimentos. Mas a delegação, liderada pelo vice-ministro dos negócios estrageiros holandês, Marten van den Berg, também teve como foco as infraestruturas marítimas, área na qual a Holanda pretende investir o seu know-how.
Segundo Marten Berg que escalou o pais faz uma leitura promissora das potencialidades que Mocambique detem e, a Holanda não sendo uma Ilha tenciona alargar o seu campo de accao no acesso aos recursos existentes.
EV – Que retrato faz de Moçambique, ao fim de quatro vezes no país?
MB – Depois de ter estado aqui pela primeira vez em 1992, voltei já três vezes com grupos de empresários holandeses. E vejo muito desenvolvimento no país. Claro que há muitos desafios pela frente, mas com o novo surgimento de gás existe a possibilidade de um futuro brilhante.
EV –A deslocação a Pemba e Nacala prende-se, então, com a proximidade dos recursos como o gás?
MB – Sim. Estou aqui com empresas holandesas como a SHELL, EIC e outras companhias de renome internacional à procura de oportunidades de investimento na área de infraestruturas marítimas e gás. O nosso objectivo é podermos trabalhar em conjunto com as empresas moçambicanas e internacionais.
EV – Trata-se, então, de uma visita que se cinge apenas a duas áreas. Que expêriencias pretende partilhar com Moçambique?
MB – A Holanda é um grande fornecedor de gás há cinquenta anos, temos muitas empresas de renome internacional, especialistas com conhecimento na área de infraestruturas marítimas assim como no gás. Como contributo, podemos trazer muita experiência – como a do sector privado, com institutos de conhecimento, ou do Governo. Mas é preciso que exista boa governação de forma a tirar proveito das reservas de gás.
EV – Falando de boa governação. O factor corrupção é uma das pontas do icebergue que põem em risco tanto o desenvolvimento sustentável como os próprios investimentos. Quanto a Moçambique, qual é o seu ponto de vista, principalmente quando temos casos como o do ministro da Agricultura, José Pacheco, acusado de estar envolvido no tráfico de madeira de Moçambique para a China?
MB – Em Maputo, tivemos uma discussão profunda com vários ministros. Constatei que muitas pessoas estão preocupadas com uma boa governação, encontrei pessoas bem informadas sobre leis, regulamentos em outros países. A ministra dos Recursos Minerais moçambicana, Esperança Bias, vai visitar a Holanda em Julho e, lá, vamos poder partilhar também os nossos conhecimentos sobre leis, regulamentos, transparência. Penso que é muito importante para a prevenção da corrupção. E aqui refiro-me também à própria transparência das empresas e do Governo.
EV –Como lidar, com esta situação e para que não tenhamos um Moçambique ao estilo da Nigéria, uma país rico, mas ao mesmo tempo pobre, com muita disparidade social, e onde os recursos naturais beneficiam um punhado de gente da elite política em detrimento da maior parte da população?
MB – Temos que trabalhar próximos uns dos outros, envolvendo as companhias, as universidades e os governos. Mas podemos partilhar com Moçambique a forma de organizar, regular o mercado, o que fazer com os ganhos provenientes destes investimentos e canalizá-los para as áreas da educação, saúde, água e sanemanento e sector marítimo. E isto deve ser feito em conjunto com os sectores público e privado para que o povo moçambicano possa beneficiar dos investimentos.
EV – Relativamente aos investimentos holandeses em Moçambique e ao desenvolvimento do país: uma vez que Moçambique ocupou, em 2012, o lugar 185 – de 187 países – no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, enquanto a economia nacional regista um crescimento acima dos 7% ao ano, a que desenvolvimento nos podemos referir?
MB – Moçambique e a Holanada sempre tiveram uma relação muita concisa, também nas áreas de cooperação, desenvolvimento, ajuda humanitária. Vamos alterar a forma como tencionamos trabalhar com Moçambique, tentando concentrar-nos mais na combinação entre desenvolvimento e mudança de investimentos. Então, os recursos humanos são muito importantes para que possamos trabalhar juntos, construindo escolas nas áreas de interesse do investimento holandês, ajudar a desenvolver o sector do gás, infraestruturas marítimas, bem como, por exemplo, no sector agrícola.
EV – Esta ajuda benefecia algumas elites governamentais, que vão enriquecendo em detrimento do povo. De tal forma que os doadores chegaram a fazer cortes no apoio ao orçamento do estado moçambicano. E aqui refiro-me, entre outros, também à própria Holanda. Qual é o seu ponto de vista?
MB – Em termos de financiamento para a ajuda ao desenvolvimento, a Holanda também teve que fazer alguns cortes, devido, em parte, à crise económica que se vive actualmente na Europa. Mas penso que esta não é a principal questão. Se olharmos para Moçambique, veremos que existem várias oportunidades que deveriam ser aproveitadas para se trabalhar em conjunto, próximo das empresas, assim como encontrar formas para que o povo moçambicano tire proveito de todos os investimentos privados e realmente pensar em como lidar com estes requisitos no contexto local e em como todos poderão beneficiar dos recursos naturais existentes em Moçambique.
EV – Que mecanismos foram criados para que o cidadão beneficie destes recursos naturais, para que não se crie uma situação como a que se verifica não só na Nigéria, mas também em Angola, por exemplo?
MB – É peremptório que exista boa governação, governação forte, transparente, que, de facto, informe o povo sobre o que se faz com o dinheiro e é muito bom que, em termos de educação, saúde, infraestruturas e transparência, o povo exija resultados ao Governo. Isso é crucial.
EV – Mais de 80% da população moçambicana vive da agricultura. Encontram-se na delegação que trouxe a Moçambique empresários ligados ao sector agrícola?
MB – Constatamos que há um interesse do empresariado privado em trabalhar conjuntamente com as comunidades locais na construção de escolas e hospitais bem como no investimento em infraestruturas e noutros sectores como a agricultura. E isto é crucial para o crescimento.
Mas, desta vez, não temos empresários ligados à agricultura. Esta missão estava focada nas áreas de infraestruturas marítimas e gás. Esperamos ter, ainda este ano, uma missão virada para a agricultura. Há muitos holandeses na área agrícola a operarem em África, em países como a Etiópia e Quénia. Pode ser interessante expandir para Moçambique, trazer conhecimento relativamente aos fertilizantes, como usá-los, plantar e incrementar o crescimento nesta área.
EV – Apesar da a agricultura ser a tal considerada base da economia do país, este sector parece continuar em segundo plano em prol do gás. E isso significa que se está a começar do topo, sem que a base, a agricultura, seja fortalecida para fazer face aos novos investimentos...
MB – Sei que o sector agrícola é também importante para o emprego e que não tem havido investimento de vulto na agricultura. Penso que há muitas oportunidades – boas terras, clima, água – e há sistemas e conhecimento que podem aumentar a produtividade e, portanto, também o emprego. As pessoas podem beneficiar enormemente do sector agrícola, se, no futuro, não for necessário importar a maioria dos produtos agrícolas.
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