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segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Masekela 71
Hugh Masekela
Estacios Valoi
Foto: Ismael Miquidade
03/11/09
Foi no fim-de-semana passado carregado de muita música e alegria no Coconut em que a companhia de telefonia móvel mCell propôs ao público com o lançamento do disco da cantora moçambicana Lizha Jemes recentemente galardoada com a estatueta do ‘Music World Award’ que no acto da apresentação teceu algumas considerações.
‘Para mim é um grande prazer ter artistas deste gabarito como o Hugh Masekela, Mingas, Stewart Sokuma, Mandoza no meu lançamento que desde criança sempre os adorei e também viram me crescer e hoje trago o meu novo álbum intitulado sentimentos de mulher parte 2 com 18 faixas onde oito são calmas R&B mas todas cantadas em português e uma cantada na língua da Beira intitulada Tandiwe e outras oito mais mexidas com o nome de Panza’.
Mas o meus mergulho ainda estava por começar, começando e desta vez poucas vezes cruzei linhas para o pais do rand ao encontra da lenda viva.
Masekela começa a cantar e a tocar piano aos 13 anos e aos 14 uma viragem para o seu mais predilecto instrumento, o sopro “a idade do trompete’. Masekele tocou com a banda de Jazz Huddleston liderada por Trevor Hudedleston um activista proeminente anti-apartheid que posteriormente foi deportado.
Com co-fundador dos ‘Marry Makers of Spring’ juntamente com Jonas Gwanga, mais tarde salta para a banda Jazz Revenue do Alfred Herbert onde juntos andaram pelos estúdios como suporte para várias bandas. Enquanto Masekela passeava pela orquestra para o musical ‘King Kong’ no qual se inclui Miriam Makeba, também esteve com outras e muitas lendas como Abdullah Ibrahim, Sathima Bea Benjamim, Dizzy Gillespie, Harry Belafonte Jonh Dankworth. Mais tarde, Masekela entra pela Academia Real de música e no prelúdio dos anos 60 e a sua ‘panela’ começa a fervilhar com o seu estilo híbrido do african/pop/jazz.
De volta a casa Moçambique Maputo, vivo?
É maravilhoso contudo a decepcionante temperatura que se regista porque apenas trago roupas para o verão e pensei que pudesse apanhar tomar um banho de sol, caminhar pela praia e dar um mergulho, mas em Moçambique o princípio do verão é assim mesmo.
Continuo sendo o mesmo de sempre, a mesma forma de viver as coisas com muita intensidade, acreditar nos meus valores numa luta permanente pelos meus ideais mas também pelos africanos, principalmente os do meu país.
Já agora porque é que não do um mergulho nesta piscina aqui ao nosso lado se é que és um bom nadador?
(Risos) Fica para a próxima. Venho para aqui regularmente porque é como se fosse a minha segunda casa na África Austral e tenho a oportunidade de ter amigos como Jimmy Dludlu, Mingas, Stewart e agora a Lizha James.
Hoje aqui no palco do Coconut a convite da Lizha James para com ela e não só mas também com o Stewart Sokuma, Mingas actuar como é que te sentes?
Sinto me honrado. Sabes para um homem de 71 anos não é mau ser convidado por esta juventude e neste caso em especial pela Lizha, significa que venho fazendo algo mais universal em que a idade não conta e penso que a os jovens sabem que não me preocupo com as categorias e não reconheço todas os estatutos que me atribuem, apenas toco musica e de facto sinto me honrado por eles saberem que podem convidar me.
Da sua marca de gravação Chisa já em California (US), a sua canção ‘Grazing In The Grass’ alcanças o top dos tops mundiais em 1968 vendendo milhões de cópias incluindo a canção “Carnegie Hall’, nunca mais parou cavando mais para a direcção étnica. Da Califórnia a África, Zimbabwe, Botswana dos anos 70 aos 80, na companhia da Miriam Makeba” Mama África” vários trabalhos seus vieram ao de cima nos quais se incluem, Patti Austin, Eddie Gomes, Dudu Pukwana, Herb Alpert. Também fizeste parte da digressão com Paul Simon no seu ‘ Grace land. Por outro lado as sessões de produção e gravação com Makeba continuaram. Mas foi nos meados dos 90 que ‘explodes’ lançando o seu ‘baú’ uma colecção de álbuns ilustrando a sua versatilidade e o crescimento do Jazz Sul Africano embrulhado em tantos Hugs e Masekelas que em ti existem num contexto do Jazz que foi variando ao longo dos anos.
São vários e continuam sendo os teus momentos de glória. Qual foi a fase mais critica na sua vida?
Foi a fase em que estava fora da África do sul, exilado, essa foi uma hecatombe, falo da fase do Apartheid, todos péssimos, o Botha, Foster e outros fantoches Foi uma fase melancólica de tristeza para África austral porque o sistema Apartheid destabilizou toda a região, Zâmbia, Zimbabwe, Lesotho, Botswana, Suazilândia, Angola, Namíbia, Moçambique, um rastilho em toda a área.
Mais triste ainda por poder acompanhar apenas pela televisão sobre o que estava a acontecer essa destruição toda e hoje feliz contudo a África austral deve recomeçar do princípio mais uma vez e espero que venha a ser uma região exemplar.
Começar do começo o a que ti referes exactamente num continente que geralmente os políticos acham se no direito de acabar com o um processo eleitoral em votação ou em balas ‘ballot or bullets ’?
Bem. É algo que transcende o nosso controle. Infelizmente este fenómeno não se circunscreve apenas na África, mas na África e algo recente comparativamente com os outros países. Não somos o primeiro continente com ditadores, contudo; e triste que nessa altura em pleno século 21 muitos presidentes que pessoalmente pensam que o país lhes pertence ‘ le etat ce moi’ e não aceitam o resultado do pleito eleitoral. É triste mas espero que este fenómeno seja ultrapassado, talvez as próximas gerações abram o país para todas as pessoas. As pessoas votam nos políticos e estes esquecem-se de nós. Durante as eleições prometem tudo e nada e após o escrutínio desaparecem! Vamos esperar talvez quando atingires a minha idade a África tenha já atingido outro estagio, mudar para melhor.
A África do sul prestes a realizar a copa mundial de futebol todavia embrulhada em alguns probremas por solucionar como ao tráfico humano, prostituição que poderá se agudizar durante a copa?
Na África do sul dizem coisas como o Apartheid piorou a questão da pobreza em toda a região Austral não só na África do Sul. Quando votamos pela primeira vez, transformamos o país, tornando o livre e as pessoas vieram de toda a África, do mundo para viverem numa África do Sul prospera porque erra o lugar de esperança ’ o el dourado’ para muita gente mas a maior parte destas pessoas eram pobres que não puderam concretizar o sonho que tanto almejavam.
‘Com o programa governamental, fortalecimento da economia para a população negra (Black economic empowerment), alguns pensaram que tratava se apenas de andar de roupas e carros bonitos ‘
Na África do sul a muita riqueza mas concentrada nas mãos de uma minoria num país territorialmente extenso assim como o continente, infelizmente carregado de pessoas pobres e penso que todos os nossos problema tem a sua origem nesta questão da pobreza.
Quando a pobreza for aliviada talvez possamos registar algum progresso alem melhoria das condições de vida das pessoas e poderemos minimizar as coisas com impacto negativo que acontecem no continente com ênfase para a região Austral. Não me perguntes como e quando que não saberia responder - te.
A questão do HIV/Sida continua sendo um ‘calcanhar de Aquiles’’ muitas pessoas mortas. Pensas que deveria haver mais educação?
Não sei, estou aqui sentado contigo (risos). Não tenho as respostas para esta pergunta mas penso que há alguma esperança num futuro próximo. Penso que as lideranças africanas vão se tomar em consideração as necessidades do povo. Olho para países como os escandinavos, naqueles países o Presidente, o Primeiro Ministro andam de bicicleta, comboio, machibombo para se deslocarem aos seus postos de trabalho.
Espero um dia isto aconteça em África e penso que vai significar muita coisa, desde da igualdade e o presidente vai sentir que faz parte do povo, não sei se vai acontecer durante a minha vida ou não, mas espero que a exemplo desses países também aconteça nos nossos.
Choro pelas pessoas pobres em África, quase 90% das pessoas no continente são pobres e isto trás uma dor profunda no coração, ver as pessoas pela televisão, partirem, fugirem carregadas como os seus ínfimos bens com destino incerto mas a fugirem daqueles para quem votaram, é triste e espero que um dia não distante a situação seja apaziguada.
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