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quinta-feira, 31 de março de 2011
Pacientes ficam meses a porta do Hospital
Pacientes ficam meses a porta do Hospital
Texto e fotos: Estacios Valoi
31/03/11
No Hospital central da Zambézia (HCZ), desde tempos a esta fase o paciente é obrigado a ter que ficar meses para ser assistido, entregue a sua sorte e com consequências nefastas numa província que tem apenas 75 médicos.
Esta situação vem deixando desgastados não só a população citadina, mas outros que recorrem a aquela instituição da saúde, que por fim são deixados entregues a sua sorte.
Apesar da tamanha hecatombe o timoneiro da pasta da saúde nesta província Alberto Baptista faz um balanço positivo das actividades desenvolvidas pela classe médica mas reconhece tal problemática.
“Avalio de forma muito positiva, julgo que todos os meus colegas médicos devem realmente estar a aplicar o principio da deontologia e sobretudo da ética profissional e cientes de que todos quando abraçamos esta carreira sabemos quais são as nossas obrigações.
O médico pode reivindicar o salário mas nunca vai saber dizer quanto é que gostaria de ser pago. O médico não deve trabalhar por dinheiro. O que deve nortear sobretudo o espírito do médico é o espírito de salvar vidas sem esperar no entanto pela recompensa como primeiro objectivo. A maior recompensa que o medico pode ter, é ver o paciente a melhorar.
Neste momento temos cerca e 75 médicos a nível de toda a província da Zambézia e já temos a comunicação da colocação de mais cinco novos médicos este ano. Ainda não estão distribuídos pelos distritos. Três já estão cá no processo de integração na cidade de Quelimane antes de seguirem para os seus distritos. Mas devo dizer que a partir do segundo semestre do ano passado nós também fomos recebendo mais médicos especialistas e hoje já temos uma ginecologista e pediatra moçambicanas que vãos se juntar a outros especialistas na cidade de Quelimane e aos que temos a nível da nossa província”.
Ainda sobre a questão do tempo de espera do paciente para ser assistido, Baptista ‘e ambíguo nas suas afirmações.
“Não digo que seja um problema ligado a falta de capacidade humana. Penso que esta ligado a exiguidade do pessoal medico. Hoje estamos a falar de um médico para cerca de cinquenta a sessenta mil pessoas. Esse é o rácio da província da Zambézia, portanto esta muito acima daquilo que são os padrões internacionalmente aceites do rácio médico por habitante.
Significa que atender a todos os doentes e que todos tenham acesso a consulta médica de imediato é uma etapa ainda muito distante. Estamos a tentar reduzir cada vez mais o tempo de espera para a consulta médica, houve tempos em que provavelmente o tempo de espera era de seis meses e gostaríamos de atingir uma semana como tempo máximo de espera”.
“Actualmente o tempo de espera vária de especialidade para especialidade. Na medicina interna pediatria, cirurgia tudo varia em função do número de especialistas que existem em cada uma das especialidades. Hoje a media de espera para uma consulta anda em volta dos 30 dias.
A solução na verdade seria de colocar mais médicos e isto tem que ser feito em função de cada uma das especialidades. Mas neste momento as áreas mais críticas para nós são a cirurgia geral, medicina interna, pediatria e ginecologia obstetrícia ao nível da nossa província”.
Quanto a falta da capacidade humana no (HCZ) Baptista contradiz-se na sua dissertação
“ Esta sendo feita a colocação de mais médicos. Como sabe o ministério da saúde não controla a formação de médicos no Pais. A formação ‘e feita pelas universidades. E aqueles que querem trabalhar para o sector público, o ministério da saúde os colocam em função das necessidades do Pais. Digo que nos últimos anos a nossa província tem estado a receber um número considerável de médicos e este rácio tem estado a reduzir nos últimos dois três anos.
OMM de costas voltadas
Segundo o presidente da ordem dos Médicos de Moçambique na província da Zambézia Doutor Jorge Fernandes, a questão da remuneração tem a ver com o bom desempenho do médico.
Em primeiro lugar é mesmo a remuneração. Nos PALOP somos os segundos mal pagos depois da Guine Bissau, o especialista máximo consegue só 1000 dólares por mês. Mesmo quando o medico vai trabalhar na zona rural quase que sem condições, efectivamente a remuneração influencia na qualidade dos serviços médicos. Digamos que com fome ninguém trabalha bem.
Pode estar relacionado mas não são só médicos. O médico tem que ter uma habitação condigna e ter outras condições e sem ter estas condições o ser humano não trabalha condignamente. O médico geralmente respeita a ética. Aquele que não respeitar agora futuramente haverá sanções disciplinares.
Quando questionado sobre os 30 dias de espera do paciente para ser assistido Fernandes prefere não cingir se a esta problemática.
Não queria entrar num âmbito muito específico. Agora estamos na semana dos médicos e temos o direito do dia 28, dia dos médicos. Então a ordem dos médicos de Moçambique (OMM) começou por criar dois instrumentos fundamentais que são, os estatutos da ordem dos médicos e o código deontológico.
Estes dois instrumentos reguladores ainda não foram aprovados pela assembleia mas são órgãos que nos irão permitir disciplinar melhor os médicos e nos orientar e é natural que depois destes instrumentos comecemos a trabalhar melhor e a ter as coisas mais organizadas e ordenadas.
Com estes instrumentos muita coisa vai mudar, primeiro os médicos tem os seus direitos, mas dentro do quadro geral tem direitos e deveres muito específicos. Não havendo um estatuto podia ser violado sem que houvesse uma consciência desta violação. Nós temos a nossa ética, conhecemos mas não havendo nada regulado é mais difícil aplicar.
O estatuto esta a nascer e eles estavam espantados. As certas coisas que não se apercebiam. Por exemplo, sobre os direitos e deveres que tinham, ate que ponto é possível fazer ou não uma determinada acção médica. Não nos admiremos se num futuro breve aparecerem casos de médicos castigados com penas consoante a gravidade das suas acções.
Recomendações
Uma coisa que gostava de ver mesmo pela administração anterior é o reconhecimento do trabalho do médico. Na realidade em relação aos quadros todos, o do médico tem sido o mais sacrificado. Vai entrar para qualquer distrito e o único quadro superior que vai encontrar em más condições ou não é o médico e, esta a exercer a sua tarefa. Então estas condições e o médico deviam ser mais valorizado.
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