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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
SADC clube das palmadinhas e do culto da adoração
Texto e fotos: Estacio Valoi
24/01/13
Recentemente, e à esteira das enxurradas que vem assolando Moçambique com o povo a mercê da sua sorte entre mortes, cólera, malária, suas casas destruídas, problemas infindáveis mas que se repetem a cada ano que passa perante a impotência, arrogância do governo do dia, cujo líder Armando Emílio Guebuza faustosamente, pomposamente celebrou os seus 70 anos de vida quando considerável número da população não tem o que comer.. Obrigados a ver pela TVM.
Segundo Nahas Angula primeiro ministro da Namibia, ao nível da SADC não existe uma plataforma adequada para fazer face aos problemas que minam o desenvolvimento da região e dos próprios países, resvalando se no culto da adoração onde todos querem ser bem vistos enquanto problemas inerentes ao desenvolvimento agudizam-se a cada dia que passa, e a União Africana não foge à regra.
“Namíbia, Malawi.. Ambos membros da SADC. Estou seguro que ao nível da SADC trocamos experiencias. Mas uma das coisas, como africanos, efetivamente não estamos a fazer: criar de facto uma plataforma através da qual possamos trocar experiencias, estórias de sucesso ou não.
Facto. Não temos uma plataforma adequada para tal, a maioria das coisas são feitas a nível político, todos querem agradar uns aos outros. Não falamos da rede interna, dos problemas que enfrentamos nos nossos países, da transformação económica, pobreza, juventude, desenvolvimento rural e muitas outras coisas”.
“As discussões a nível político são, no geral, boas. Mas quando vem a prática, a solução dos problemas, por vezes…não sei! Talvez seja algo africano, não valorizamos os nossos próprios engenheiros, técnicos... Não sei como ultrapassar isto, cabe aos jovens africanos pensarem nisto. Namíbia é um importante país na SACD, recentemente esteve a presidir a SADC e, continua com um papel importante”.
Angula desgastado com o jogo da palmadinha nas costas - “modus vivendu” pela SADC - à semelhança dos desafios que o seu país enfrenta, repudia a atuação dos seus colegas
“Namíbia é um dos países pequenos da SADC, com uma população de 120 milhões apenas. Integração regional! Para nós políticos, essa é a canção mais tocada, mas quando vem já a fase de implementação, na realidade não se vislumbra nada, o mesmo com o comércio regional.
Por vezes, nós africanos somos levados a união e/ou unidos pelos estrangeiros, agencias como esta mineradora australiana que levou a mão-de-obra namibiana para o Malawi. Mas entre nós, dentro da própria SADC, por vezes não permitimos a livre circulação das nossas próprias pessoas na região, algo que me preocupa, é uma história triste.
Em tempos uma empresa australiana veio a Namíbia para fazer mineração. A mesma empresa foi a Malawi na exploração de urânio, lá descobriram urânio. Deste que estavam a explorar na Namíbia, daqui recrutaram namibianos para trabalharem com as suas máquinas no Malawi. Tenho certeza que o governo Malawiano não sabia o que estava a acontecer! Ė uma relação de trabalho que foi criada por uma agência externa e não pelos africanos, não por nós, esta é a moral da história”
Nada de novo pela SADC
“Refiro me apenas a questões de comercio simples. Como africanos não estamos lá. Queremos ver através da integração regional e não de slogans. Para este propósito, a Namíbia predispôs-se a ser o epicentro na SADC. Um país com uma costa extensa e, como nossa forma na contribuição regional, ainda nos abrimos a muitos proprietários de terras dos países vizinhos, facilidade no uso do porto para que os nossos vizinhos usassem esses serviços nas suas importações/ exportações.
Mas como sabem, nós como africanos sempre levamos o nosso tempo, morosidade para fazer e ter as coisas feitas, então ainda estamos a caminhar rumo a questão da integração regional de facto. Há três anos era para termos um comércio livre mas não o vejo. Ė um problema africano.
Enquanto a SADC procura paredes para se apoiar, a abertura do investimento chinês é uma constante no continente africano. Hanas o primeiro ministro namibiano tenta não falar dos milhões de dólares da China que vao sendo drenados em africa e, a título de exemplo, e no caso de Moçambique, até a presidência da república ostenta o símbolo da presença chinesa, apela a média para investigar o que se passa no continente.
“Vocês deviam investigar porque é que nos comportamos desta forma. Estamos todos integrados mas não agimos como tal, não estamos a fazer, preferimos olhar para outros em diferentes quadrantes. Estamos a falar da China. O que há em especial sobre a China e com que objetivo? Porque é que não nos perguntamos quantos alemães estão na Namíbia. Voces Também estão interessados na China?
Viste muitos chineses? Namíbia é o encontro de todo o mundo, podes encontrar portugueses, alemães, afrikaaners, tswanas e outros. Aqui temos muitas pessoas. Estamos certos que queremos dançar ou já estamos a cantar a música dos outros! Falei sobre a mineradora australiana. Porque não me questionas sobre esta empresa, são os que estão aqui na mineração a fazer buracos. Sim aqui há chineses como existem americanos, alemães, australianos, sul-africanos.
A questão da mineração em África! Esta é a realidade da nossa história, não sei quanto a Moçambique. Há um relatório que foi publicado nos princípios deste ano sobre como a África esta a perder dinheiro em resultado da forma como as multinacionais negoceiam, comercializam com a África. Por vezes através da transmissão de preços, conhecimentos. África tem perdido seu dinheiro, não obtêm o valor real dos seus recursos. Ė um relatório sobre o qual penso que a União Africana tem vindo a investigar, e esse é o nosso problema. Se não trabalharmos seriamente no sentido de transformar as nossas economias, continuaremos a ser perdedores no processo”.
Relativamente a questão da distribuição desigual dos recursos naturais na SADC, logicamente Moçambique, e neste caso Angula exemplifica estendendo se pela Namíbia.
“A Namíbia continua um país subdesenvolvido, temos desafios como o desemprego, pobreza, distribuição desigual dos ganhos de que o país beneficia. Realidade africana. Imagina os principais envolvidos na mineração. São companhias multinacionais e a mineração, é um capital denso, não sei se teremos oportunidade de chegar a algum sítio; vão lá ver as máquinas gigantescas que estão nesses campos.
O nosso governo sempre teve programa para a redução da pobreza, juventude, desemprego e até um programa extenso de segurança social para órfãos, portadores de deficiência física, idoso… mas não estamos de facto a ultrapassar. Redução lenta da pobreza sim, mas o problema é a natureza da nossa economia na sua maioria extractiva, mineração, pesca, agricultura, turismo, é o que é a economia namibiana.
Para além disto temos pessoas no comércio, a vender produtos produzidos por outras pessoas e, claro um governo do qual faço parte mas as estruturas da nossa economia não estão prontas para uma abertura, possibilidades para mais pessoas fazerem a prospeção. Só podes fazer parte como trabalhador, e, devido a este tipo de economia só podes ter um crescimento interno mas sem uma redução tangível sobre o desemprego.
Se de facto queremos lidar com a questão da pobreza, desemprego, de algum modo temos que transformar estas economias, lidar com os problemas estruturais para criar mudanças no processo - única forma de expandir as possibilidades para que as pessoas tenham emprego, participem na economia. Não vejo outra forma. Sublinhou Angula.
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