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segunda-feira, 21 de novembro de 2011
A quinta sinfonia da Zambézia
Texto e fotos: Estacios Valoi
24/11/11
Desde que a questão do Amarelecimento Letal, do Escaravelho Rinoceronte veio a tona, varrendo vastas áreas de milhares de quilómetros daquilo que outrora fora considerado o maior palmar do mundo numa extensão de cerca de 120 mil hectares dos quais mais de 5 mil encontram se atingidos por estes dois problemas, estudos levados a cabo por algumas organizações na área em 2007, já previam o desaparecimento de cerca de 10 a 15 mil coqueiros nos anos seguintes.
Facto esse que se vem transformando numa autentica sinfonia, resguardada pelo tempo em momentos nostálgicos, mas nem tudo vai mal segundo a associação dos camponeses de Tabuarawa na Localidade de Marrongane no distrito de Quelimane na Zambézia virada para o usos e aproveitamento do coqueiro.
Associação composta por cerca de 20 membros na sua maioria elementos da comunidade cujo actividade principal era a agricultura. De três anos a esta fase não só da Machamba vive a comunidade, mas também da comercialização da madeira para a construção civil, produção de tapeçaria, vasos, colchões, carvão e outros derivados assim como enveredou pelo repovoamento da espécie resistente a pragas como parte do seu projecto.
Segundo o Presidente da Associação, Bonifácio Estêvão João é peremptório despertar a comunidade quanto ao valor do coqueiro do Amarelecimento letal, relativamente ao aproveitamento da madeira.
“Despertamos a comunidade sobre o valor acrescido deste recurso para a produção de barrotes, vasos, a fibra para o fabrico de tapetes porque com esses produtos muito valiosos podem ajudar a comunidade a minimizar a pobreza. Neste momento somos dez membros associados e para poder dar vazão ao serviço tivemos que contratar dezasseis pessoas. Estamos num estágio satisfatório”.
A associação esta dividida em três partes, uma virada para o fabrico de vasos com recurso ao aproveitamento da base do coqueiro, a de exploração da fibra para o fabrico de tapeçaria, colchões e a terceira no corte de barrotes, que são usados em diversas áreas, desde a construção civil em diante. Do solo, extraímos a planta a partir da raiz para evitar a propagação do Escaravelho Rinoceronte”.
“A madeira do coqueiro é sensível ao ataque dos insectos. Introduzimos a produção do Vinagre com recurso ao coqueiro. Então, a madeira é cortada em pedaços que depois são introduzidos num tambor num processo de destilação, até a obtenção do óleo para impregnar a madeira e, deste modo garantir a sua resistência. Também produzimos carvão do coqueiro e seus derivados através de uma técnica específica, ate termos um pó útil para o melhoramento de terrenos arenosos.
É um palmar que foi começado na época colonial, não havia limpeza, nunca se fez repovoamento o que contribuiu para o alastramento da larva do Amarelecimento letal, do Escaravelho vulgo “Nampuim”.
A questão do Amarelecimento letal, Escaravelho também afecta as províncias de Cabo Delgado, Nampula e a Província de Inhambane.
O “NAMPUIM “, É um Escaravelho oportunista, com o habito de se reproduzir na parte mais sensível do coqueiro saudável, onde nasce a nova folhagem, perfura, põe os seus ovos e propaga as larvas. Ataca palmeira saudável ou afectada. Quando a planta é apenas cortada e não se remove a partir da raiz, o caule exposto, torna se num acesso fácil ao núcleo. O escaravelho é mais perigoso que o Amarelecimento letal.
Agora, imagina o que é cortar, serrar um coqueiro e deixar a parte do caule, o núcleo exposto, e pior deixar os troncos apodrecerem no campo, cria se mais um foco de reprodução do “Nampuim” numa correlação de oportunidade, espaço e reprodução. É o que a Madal faz.
Na Zambézia, vamos precisar da semente do coqueiro resistente a praga, e temos essas espécies para combater o Amarelecimento letal, ter áreas limpas, conservadas e tirar a semente para os viveiros e depois repovoar o palmar.
AMARELECIMENTO LETAL
É um micróbio, um vírus que se observa microscopicamente, a sua presença a olho nu só se constata quando e/ou depois de afectar a planta, temos como sinal o folhagem seca, a flor não se desenvolve bem, o fruto cai da arvore antes do seu amadurecimento, o liquido dentro do coqueiro vai cristalizando, a circulação é mais lenta, afectando o centro da planta que por fim morre. Principalmente nas áreas das antigas companhias da Zambézia -Madal, Boror.. sem biodiversidade, ate parece que estamos a ver um filme de terror.
MADAL
A empresa Madal, subcontratada pela CIDIVOCA/Millenium Challenge Account, esta na liderança no abate do palmar cujo métodos não são o apanágio da associação
A Empresa Madal controla a maior extensão do palmar onde vem fazendo o abate desde 2007, deixando a parte inferior da planta ainda no solo, divide o coqueiro em três partes, junta os troncos divididos ao caule ainda na terra e queima. Essa técnica é ineficiente e propaga mais o Escaravelho “Nampuim” que é um mal maior. A base do coqueiro é o maior alojamento do escaravelho, é uma das pragas que ataca as folhas do coqueiro e a técnica que a Madal introduziu esta a provocar maior produção deste insecto e dentro de cinco anos não haverá coqueiros.
A introdução do coqueiro híbrido que vem sendo feito pela Madal, não trás nada de novo porque no processo de plantação e crescimento, nas zonas afectadas, a empresa corta as folhas da planta para evitar a penetração do Escaravelho o que ao mesmo tempo prejudica o seu desenvolvimento.
A comunidade não proibiu a MADAL de fazer o abate do coqueiro, mas percebeu que vendendo a planta doente tem outras vantagens, e que o processo empregue pela empresa faz com que não haja aproveitamento da Madeira, e transforma se num foco de reprodução do Escaravelho, terrenos sujos.
Januário João técnico da associação vindo da província de Inhambane
Sou um grande mestre e faz dez anos que estou nesta profissão desde Inhambane. Lá existem cerca de quinze empresas na exploração da madeira do coqueiro, vendemos e tem um bom mercado. O coqueiro não se corta como se faz aqui. A população faz bom proveito. Fui trazido aqui para a Zambézia no ano passado para dar assistência, e transmitir o meu conhecimento a associação, a comunidade na produção de barrotes, tábuas, ripas, etc.
Henrique Solimudiwa artesão
“Aqui também fazemos canoas, pilão, e a ideia de vasos vem juntar as outras actividades mas os jovens de hoje não são ágeis nesta arte mas temos estes jovens. Aqui não havia emprego mas agora estamos a fazer esta actividade, estamos satisfeitos”.
Apesar das dificuldades inerentes a falta de equipamento para o funcionamento pleno da associação Estêvão João ‘e de opinião que o sucesso faz parte do quotidiano da agremiação que lidera.
“Temos uma estoria de sucesso muito bonita, uma ideologia boa para um maior aproveitamento, dar valor acrescido ao coqueiro, e ultrapassar todas as dificuldades. Quando a gente tem sucesso, tem que reconhecer.
Actualmente a comunidade aposta em repovoar a espécie com novas plantas, esta planta não pode desaparecer. Entre as espécies que aqui existem, temos as gigantes que são as mais resistentes ao Amarelecimento letal. Nesta zona a doença entra mas não em grande escala, então multiplicamos as variedades existentes para poder repovoar o sector familiar”.
“A própria comunidade compra os tapetes que produzimos, madeira para construção, temos parceiros de cooperação como a CIDIVOCA que procura outros parceiros externos. A muita procura, até nos falta produto. Temos procura a nível de Quelimane, Nicoadala e outras províncias, queremos montar uma carpintaria para a produção de colchões usando a fibra do coco, sofás e outros subprodutos. Estamos apostados em desenvolver a cultura do coqueiro nesta área”.
Millenium Challenge Corporation
Há dois anos que a MCA anda por aqui, esta placa que estas a ver, temos um protocolo para a montagem da carpintaria, prometeram que nos vão apoiar com equipamento mas ate aqui não recebemos nada, a tal tecnologia. Esperamos ter a carpintaria no final deste ano para concretizar o acordo. Vamos continuar a utilizar a tecnologia artesanal e não a de ponta porque aqui temos artesãos que podem dar valor acrescido ao coqueiro.
Falando das outras espécies que estão sendo devastadas, no âmbito ambiental é realmente perigoso e deviam fazer repovoamento das espécies de facto, mas uma aposta de todos. Sublinhou Estêvão João.
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